Por Daniel Rocha
No ano de 2003, o planeta Marte atingiu o ponto mais próximo da Terra. No Brasil, havia um grande número de jovens desempregados que aguardavam as melhoras prometidas pelo presidente Lula. Dentre estes, Lidiane Anunciação e seus amigos, que cursavam o pré-vestibular ofertado pela Secretaria Municipal de Educação de Teixeira de Freitas.
Na cidade, não havia muitas opções de cursos técnicos ou superiores. A UNEB – Universidade do Estado da Bahia, foi a única da cidade até o ano de 2002, quando foi inaugurada a FACTEF, hoje Faculdade Pitágoras. Em 2002, a prefeitura municipal, sob o comando do prefeito Wagner Mendonça, ofertou à população o cursinho pré-vestibular “Desafio” no prédio da antiga Cesta do Povo. Atualmente, funciona a Escola Vila Vargas no local.
Antes dessa iniciativa, a Universidade Estadual da Bahia, UNEB, foi a única a ofertar um curso pré-vestibular gratuito aberto à comunidade, com o nome bem apropriado de “O Funil”. De acordo com Lidi Anunciação, estudante do pré-vestibular municipal, tanto ela quanto os colegas estavam desempregados e pretendiam disputar uma vaga na Universidade Estadual da Bahia.
Durante a campanha do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, um estudante disse que “tudo era uma questão de oportunidade” tocando forte os corações sonhadores, recorda Lidiane, que junto com os amigos, esperava ansiosamente pelos investimentos prometidos.
Um ano depois, foi criado o programa Universidade para Todos – PROUNI, que possibilitou a ela e aos outros trilhar o caminho desejado. Como é comum na rotina adolescente, havia muitas paixões e namoricos, que eram embalados pelo som romântico de cantores nacionais como Leonardo, que naquele ano estava no topo das paradas com a música, “Só Sei Que Te Amo Demais”.
O sucesso tremendo ainda ficou mais afinado com o show do cantor no espaço Suco de Pimenta, em 14/06/03, data que recorda graças ao seu diário que registra: “Uma noite fria, sem chuva, eu e meu amor curtimos Leonardo, show muito massa”.
Para ela, ir ao curso era algo muito prazeroso, porque lá era possível estudar e conhecer pessoas divertidas na sala de aula, nos intervalos e nos grupos de estudo. Também passeava pelo centro da cidade com as colegas na volta para casa ou “quando não havia aula”.
Lidi Anunciação, uma aluna assídua, relembra com saudade (e umas boas risadas) os dias no cursinho. “Além do conteúdo, a gente se divertia horrores! Nos intervalos, rolava amizade, paquera e até umas excursões não programadas pelo centro da cidade”, contou ela, deixando no ar se as aulas eram tão emocionantes quanto os passeios pós-estudo.
Os professores também eram figuras marcantes. Tinha o alemão “Nayssi”, mestre de inglês com sotaque de filme dublado, o Gilberto, que dava aula de espanhol com um carisma de novela mexicana, e o Paulo, que fazia história parecer um episódio épico. Os alunos, sempre unidos, até tentaram convencer a prefeitura a bancar um ônibus para o vestibular da UESC, mas acabaram nas promessas frustradas).
Para ter assunto, a turma ouvia o programa de rádio do Moreau Nunes, que, ao seu estilo, entre uma música e outra, divulgava a previsão diária de cada signo. Tinha também o hábito de comprar revistas astrológicas, para se divertir comparando as previsões e os acontecimentos cotidianos. Saudosa, com o diário em mãos, retirado do abandono em uma gaveta no quarto, mostra outra interessante anotação:
“Quando aquela estrela brilhante (Marte) apontou no céu no dia 26 de agosto, estava indo para o curso que iniciava às 19h, íamos observando e pensando o quanto iria demorar em contemplar o espetáculo novamente, acho que nunca mais. Por conta disso matamos aula e ficamos no pátio da escola, de lá migramos para a Praça da Bíblia, celebramos com nossas incertezas um fenômeno único que a maioria das pessoas nem deu importância.”
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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Atualizado : 23/11/24
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