Por Daniel Rocha
No caminhar da década de 1970 até meados da década de 1990, japoneses, descendentes e trabalhadores locais elevaram o então povoado de Teixeira de Freitas e a região do extremo sul da Bahia ao patamar de maior produtor de mamão no mundo.
De acordo com uma reportagem publicada na revista Globo Rural de 1994, a escalada do mamão no município teve início em 1975 quando o agricultor japonês Kenichiro Yano recebeu um quilo das tão pedidas sementes do mamão Havaí de um amigo paulista da Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC).
Os migrantes japoneses (issei) e seus filhos nascidos no Brasil (nisseis) já vinham tentando sem sucesso introduzir a cultura do coco e do abacaxi na região desde de 1950, mas com a ajuda da cooperativa paulista alcançaram o sucesso com o plantio do mamão.
Ainda sobre o início do plantio na cidade, conforme escreveu a revista Globo Rural, Kenichiro Yano recebeu e dividiu a quantidade com um fazendeiro vizinho, Pedro Jonas de Oliveira, e outros associados espalhados pela região.
Como resultado dessa iniciativa, em 1976, um ano após a chegada das sementes, a colheita baiana já era maior do que a do estado do Pará, então maior produtor do país, em um contexto em que a recém inaugurada BR-101 possibilitou um melhor acesso aos mercados do sudeste.
Como toda história de origem, existe outra versão sobre o início do plantio do mamão no extremo sul que foi contada ao jornal O Estado de São Paulo em 1985. De acordo com uma reportagem do periódico paulista, a cultura foi introduzida na região por oito nisseis que também fundaram uma extensão da cooperativa de Cotia no então povoado de Teixeira de Freitas, em 1977, favorecendo a agricultura e o aumento da migração local.
Dez anos depois da chegada das sementes e oito anos da instalação da extensão da cooperativa na cidade, o sucesso do mamão foi tamanho que o desenvolvimento Agrícola do Extremo Sul Baiano reverteu um fluxo histórico das migrações internas no Brasil, fazendo com que o Sul do país, principalmente São Paulo e Paraná, passasse a exportar “gente” para esta parte do nordeste brasileiro.
“E com essa gente foram chegando novas tecnologias de exploração do solo e de comercialização. O símbolo dessa reversão de fluxo pode ser a instalação em Teixeira de Freitas do escritório regional da poderosa Cooperativa Agrícola de Cotia (…) com 93 associados, na sua maior parte descendentes de japonês, que se dedicam principalmente à produção de mamão destinado aos mercados do sul do país e do exterior,” destacou a Revista Teixeira de Freitas, de 1985.
Conforme as fontes analisadas, o sucesso comercial do mamão e a onda migratória provocada por ele mudou os rumos do então povoado teixeirense, que surgiu movido pela exploração da madeira, abertura de novas estradas e a pecuária, marcando definitivamente sua história social, política, econômica e cultural.
Também convém destacar que nos três documentos utilizados como fontes, Revista Globo Rural, Revista Teixeira de Freitas e o Jornal O Estado de São Paulo, é gritante a ausência da voz e da perspectiva dos trabalhadores sobre este momento e período, por isso traremos no próximo texto o relato de um antigo trabalhador rural sobre sua rotina de trabalho e o ciclo agrícola regional.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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