Daniel Rocha
Em 1984, a artesã Jalene Fernandes Cardoso fez o que só uma apaixonada pela arte sabe fazer: destacou para a revista Origens o vibrante cenário artístico de Teixeira de Freitas, Bahia. Em um texto sobre a cultura local, ela mencionou alguns dos principais artistas do coletivo “Consciência” e suas ações em prol da produção cultural.
No texto, publicado em uma edição comemorativa da revista lançada pelo Banco do Nordeste em homenagem à emancipação política do então povoado de Teixeira de Freitas em 1985, Jalene pintou um quadro vívido do ambiente artístico da época, destacando as atividades dos artistas que formavam o coletivo “Consciência”.
Esse grupo organizou por anos uma feira de arte livre todo último domingo do mês na Praça da Prefeitura. Onde apresentações musicais e peças de teatro eram realizadas gratuitamente para todos os públicos, em uma época em que a censura da ditadura militar no Brasil ainda pairava, mesmo que de forma mais branda, restringindo a liberdade de expressão intelectual, artística e de comunicação no país.
De acordo com Jalene, os artistas que faziam parte do grupo incluíam José Hélio, especialista em fibra de sisal, e Ângela Espinheira, mestre da cerâmica. Além deles, ela mencionou o escultor Grinaldo e os talentosos Zuca e Carlos Galvão, conhecidos por suas pinturas e murais.
O artesão Carlos Júnior também se destacou, assim como Francisco Silva, que criava suportes para plantas com fibra de sisal, e José Campos, marido de Jalene. Jalene também mencionou Péricles Ramalho, cantor e autor premiado em festivais.
Outro projeto do coletivo foi a publicação do jornal “Opção”, lançado em uma época de censura e controle da imprensa, quando os principais jornais e emissoras de rádio eram financiados por grupos econômicos e políticos.
Pouco se sabe sobre o jornal “Opção”: seu editorial, abordagem ou quem eram os editores e leitores, mas não é difícil deduzir que sua existência caracterizava um ato de resistência dos artistas da época.
Em 1996, no documentário “Retrospectiva Histórica de Teixeira de Freitas”, o artesão Grinaldo contou que tudo começou com a publicação do jornal e evoluiu para a feira livre na praça, onde artistas de todas as regiões se reuniam como se fosse um grande abraço cultural.
“O grupo era uma turma super interessante, que fazia arte também por amor. Não é como hoje, que só fazem por dinheiro”, disse Grinaldo, com a sabedoria de quem viveu os tempos áureos da arte por amor.
Outro ponto alto dessa história é o protagonismo feminino, com Jalene Fernandes à frente do coletivo “Consciência”, mostrando que as mulheres sempre tiveram um papel vital na cultura da cidade, mesmo que isso seja frequentemente esquecido.
Assim, a história do grupo Consciência em Teixeira de Freitas na década de 1980 é um exemplo de como um grupo de apaixonados pelas artes pode criar movimentos de impacto social e promoção cultural, atuando contra todo e qualquer tipo de pressão política e econômica.
Fontes:
Documentário Histórico da TV Sul Bahia, 1996
As origens. Revista Banco do Nordeste. 1985.
DOMINGUES, Joelza Ester. Fim da censura no Brasil: Blog: Ensinar História.
Foto: Artistas na cidade. Foto que ilustrou o docunentário quando falou da existência do grupo.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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