Será o silêncio uma falha da linguagem? Ou será ele, como a própria existência, uma revelação do absurdo fundamental? Algumas correntes sugerem que buscar sentido — inclusive no silêncio — é fútil, pois o universo carece de significado intrínseco.
A linguagem, nessa visão, seria apenas uma construção humana, uma tentativa de cobrir o vazio existencial. Nesse abismo sem respostas, o silêncio talvez seja apenas o eco do nada, um testemunho mudo de que, por mais palavras que usemos, o essencial permanece inefável.
Outras perspectivas, porém, enxergam o silêncio como prática de sabedoria. Não por resignação, mas como exercício de domínio interior. Calar seria uma forma de resistência e autocontrole.
Num mundo saturado de ruído e vazio de escuta, o silêncio emerge como ferramenta para sintonizar a razão cósmica. Falar apenas o indispensável e aceitar em quietude o imutável — esta seria a expressão máxima da virtude.
Há ainda quem veja o silêncio como um espelho da condição humana. Diante do caos de convenções e certezas ilusórias, ele nos confronta com nossa liberdade radical e a angústia que ela carrega.
O silêncio nos obriga a encarar nossa responsabilidade única: somos nós que atribuímos — ou negamos — sentido ao que vivemos e expressamos.
Calar pode ser covardia ou ato de coragem. Pode ser o grito sufocado de quem não encontra palavras autênticas, ou o gesto supremo de quem sabe que qualquer fala trairia o indizível.
No fim, o silêncio é pura tensão dialética. Não é só falha nem só potência. Pode isolar ou unir, ocultar ou desvelar. Pode ser o deserto do sem-sentido, o porto da serenidade ou o precipício da liberdade.
Talvez o silêncio não signifique coisa alguma.
Ou talvez ele contenha tudo.
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