Por (Daniel Rocha)
O Reisado, ou Folia dos Reis, é uma tradição católica que reúne cantores e instrumentistas fantasiados em homenagem aos três Reis Magos e ao menino Jesus. No Brasil, essa prática apresenta diversas manifestações, e em Teixeira de Freitas, no extremo sul da Bahia, suas raízes remontam à época anterior à formação do povoado, na década de 1950. Na década de 1970, a tradição ganhou destaque no bairro Bela Vista, onde foi organizada com grande sucesso.
No bairro, a tradição foi mantida, segundo relatos, pela moradora Maria da Ressurreição Manuel, mais conhecida como Boló, que nasceu na comunidade rural Serrinha em 1940. A Serrinha, uma comunidade negra formada por várias famílias, está situada às margens da BA-290, perto da entrada do Aeroporto Nove de Maio. Até a década de 1980, a comunidade pertencia ao município de Alcobaça, mas atualmente faz parte de Teixeira de Freitas.
Filha de Maria José da Conceição e de um “pai aventureiro”, Boló compartilhou, em uma conversa informal em 2014, sobre sua liderança e envolvimento na organização do reisado. Ela contou que se encantou com as apresentações realizadas por uma mulher conhecida como Tia Joana e, quando já era adolescente, tornou-se parte do grupo, inicialmente como pastora e, posteriormente, como mestre, responsável por organizar e conduzir os cânticos.
Após um período afastada da tradição, devido a casamentos e à criação de filhos, Boló mudou-se para Teixeira de Freitas em 1978. Com a ajuda de antigos amigos — Turbidez, Caboclo e Bituca —, ela formou um novo grupo de reisado, inspirado nas tradições da Serrinha. O grupo contava com doze integrantes, incluindo homens e mulheres, organizados em dois cordões, com três pastoras, dois marujos e um guia.
Isidro A. do Nascimento, que recebeu o grupo em sua casa, mencionou a presença de uma figura marcante, o “Boi iaiá”, que também acompanhava o reisado e tinha a função de assustar crianças desobedientes. O Reisado começava em 6 de janeiro e se estendia até 3 de fevereiro, sempre animado por instrumentos como o pandeiro. O grupo saía por volta das 19h, cantando pelas ruas do bairro, com as filas organizadas em seis marujos de cada lado e cinco pastoras, guiados pelo capitão responsável pelo estandarte.
Inicialmente, as apresentações eram limitadas ao bairro Bela Vista, mas, devido a convites, o grupo começou a visitar outros bairros, incluindo Jerusalém e Recanto do Lago, onde se divertiam até meia-noite com xotes, manjuba, apitos e a coreografia dos marujos. Boló lembra que a tradição na Serrinha foi trazida pelos negros Dona Júlia e Turbides, oriundos da fazenda Jerusalém.
Ela destacou que, no início, a folia era realizada por promessas, mas que sua motivação sempre foi o divertimento. Apesar das boas lembranças, Boló expressou uma frustração: com a saída de Turbidez por problemas de saúde, ela não conseguiu completar o ciclo do reisado, que exige que quem inicia a folia a realize por seis vezes antes de passá-la a outro grupo.
“Faltou apenas uma… Tenho vontade de juntar um grupo para terminar o reisado que comecei, mas tenho medo da criminalidade e dos malandros. A violência de hoje me assusta; não dá para fazer em lugar fechado, tem que ser na rua, e elas estão bem movimentadas”, disse.
As recordações de Dona Boló revelam que, mesmo ao migrar para a zona urbana, a população rural manteve, por um tempo, as tradições coletivas da vida no campo. Contudo, essas referências foram sendo reprimidas sob a pressão do espaço urbano e de um estilo de vida marcado pelo individualismo social.
Fontes:
Conversa informal com Maria da Ressurreição Manuel 2014.
conversa informal com Isidro Nascimento 2014.
Colaborou com a pesquisa: Domingos Cajueiro Correia
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
O conteúdo deste Site não pode ser copiado, reproduzido, publicado no todo ou em partes ou convertidos em áudio ou vídeo, por outros sites, jornais e revistas sem a expressa autorização do autor. Facebook.
Fontes:
Conversa informal com Maria da Ressurreição Manuel 2014.
conversa informal com Isidro Nascimento 2014.
Colaborou com a pesquisa: Domingos Cajueiro Correia
Nenhum comentário:
Postar um comentário