A ITINERÂNCIA DAS MULHERES PROSTITUTAS EM TEIXEIRA DE FREITAS: PARTE 02



Por Daniel Rocha
Um mês antes de visitar o estabelecimento no bairro São Lourenço, estive em uma casa do ramo na Avenida Getúlio Vargas, em maio de 2018, para entender a itinerância das profissionais que atuam em Teixeira de Freitas. Elas ainda são oriundas de outras cidades, como nas décadas de 1970?

No local, também gerenciado por uma mulher, conversei informalmente com duas capixabas, de 30 e 35 anos, oriundas da capital do estado, cujos nomes foram preservados. Elas responderam a algumas perguntas sobre sua origem e atividade.

Após se sentirem à vontade com nossa presença, perguntei se Teixeira de Freitas faz parte da rota de trabalho das profissionais do sexo que transitam pela região, como indicam relatos das décadas de 1970 e 1980.

Segundo elas, não existe uma rota ou a noção de itinerância entre as profissionais que passam temporadas na cidade. “Geralmente, há trocas de informações sobre os melhores locais para ganhar dinheiro. Se existe uma rota, ela é natural”, afirmou uma delas.

Assim como as primeiras profissionais ouvidas, as mulheres da segunda casa visitada não se sentiram à vontade para compartilhar detalhes sobre sua vida privada, mas se declararam “mães com contas para pagar e filhos para criar”, sem demonstrar sentimentos de alegria, culpa ou melancolia em relação à sua profissão.

Diante disso, perguntei sobre os motivos que as levaram a escolher esse estilo de vida. Elas mencionaram a necessidade de ganhar dinheiro, cuidar, manter e educar os filhos.

Elas relataram que essa é uma informação que preferem não compartilhar, pois a maioria dos clientes tende a fantasiar sobre as mulheres da profissão como se fossem sem escrúpulos ou limites definidos.

Por essa razão, elas são procuradas para atender fantasias e necessidades, e não fazem questão de ser simpáticas com quem não está disposto a pagar, não se sentindo culpadas ou melancólicas por serem profissionais do sexo.

Essas informações permitem relacionar suas experiências com as afirmações de Diniz (2006), que afirma que as mulheres foram e ainda são ensinadas a sacrificar e negligenciar seus próprios desejos para suprir as necessidades dos outros, especialmente maridos e filhos.

Ao se declararem provedoras da família, essas mulheres reforçam a ideia de serem frutos de uma construção sócio-histórica sobre o papel feminino tradicional, que ensina que a mulher deve se sacrificar em prol dos outros.

Esse discurso é também reforçado pelas instituições sociais, como a escola, que, segundo Daniela Finco (2003), não é neutra, participando da construção da identidade de gênero de forma desigual desde as primeiras relações da criança no ambiente escolar.

Diante do exposto, tanto neste quanto no texto anterior, é possível observar que realmente existe uma itinerância, uma rota natural, não organizada e abrangente, onde circulam essas mulheres em busca de renda em locais de grandes aglomerações e também de privacidade em espaços não fixos. 

Essas mulheres, trabalhadoras da economia marginal, não estão isentas de cobranças relacionadas ao papel feminino socialmente construído.

Fontes e créditos

DEL PRIORE, M. (2001). Apresentação . Em Mary Del Priore (Org.), História das Mulheres no Brasil, p. 7-10. São Paulo: Editora Contexto/Editora UNESP.

FINCO, Daniela. Relações de gênero nas brincadeiras de meninos e meninas na educação infantil: o desafio da co-educação.Pro-Posições. v. 14, n. 3 (42) – set./dez. 2003.

DINIZ, Gláucia R. S. Gênero, casamento e família: interações entre novos modelos e papéis. In: 2006, Florianópolis. Anais do Seminário Internacional Fazendo Gênero 7. Florianópolis: Editora Mulheres, 2006. p. 1-7. Disponível em: < http://www.fazendogenero.ufsc.br/7/artigos/G/Glaucia_Diniz_05_B.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2018.

DE JESUS, J.; ALVES, H. Feminismo transgênero e movimentos de mulheres transexuais. Revista Cronos, v. 11, n. 2, 28 nov. 2012.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769

e-mail: samuithi@hotmail.com

O Conteúdo  deste Site não pode ser copiado,reproduzido,publicado no todo ou em partes por outros sites, revistas ou jornais sem a  expressa autorização do autor.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog

Click e Veja