Os Causos da Rua do Brega de Teixeira de Freitas : Parte 01





Por (Daniel Rocha)

A partir do surgimento do povoado de Teixeira de Freitas, em meados da década de 1950, às margens das estradas abertas pela empresa madeireira de Eleuzibio Cunha (Eleuzíbio Cunha) e a abertura da rodovia federal BR-101, dá-se início ao processo de urbanização desta parte do extremo sul da Bahia.

A grande área verde, ocupada pela mata atlântica preservada, começa a ser intensamente desmatada para dividir espaço com a pecuária, a agricultura e casas de comércio, que dinamizam a economia como um todo. A devastação intensa favoreceu a expansão urbana do povoado, fundado por famílias negras que já residiam pelas redondezas em pequenas comunidades rurais.

Em menos de trinta anos, o centro do pequeno povoado, subordinado sucessivamente a Alcobaça e Caravelas, expandiu-se, atraindo trabalhadores de variadas categorias, oriundos de diversas partes da região e dos estados vizinhos de Minas Gerais e Espírito Santo.

A chegada do primeiro órgão público estadual do povoado, o DERBA (DERBA – Departamento de Infraestrutura de Transportes da Bahia), em 1964, aumentou ainda mais o movimento dos bares e pensões ali existentes, muito frequentados por madeireiros e agricultores locais.

Neste contexto, surgem as mulheres prostitutas, que vendiam seus serviços nos bares, boates e casas de diversão na Rua Mauá, hoje mais conhecida como a Rua do “Brega” ou “Zona do Baixo Meretrício”, que atendia todas as adjacências.

A rua, que no presente fica no centro da cidade, ofertava e ainda oferta os serviços próprios do ofício ao público masculino interessado: homens trabalhadores, solteiros ou casados, cumpridores de suas obrigações.

Por isso, para tentar conhecer um pouco mais da rotina do lugar, recorri aos relatos e causos contados pelos antigos frequentadores, que pediram para não serem identificados, porque, como se pode imaginar, não gostam de tornar públicas as visitas realizadas ao local. Por essa razão, os nomes que serão citados são fictícios.

Todos os causos narrados pelos ex-frequentadores procurados são carregados de silêncios, nostalgias e anedotas, que favorecem ainda mais as especulações sobre o funcionamento do lugar. Por isso, destaco que os textos estão de acordo com as perspectivas e as definições das fontes e pessoas consultadas; assim, as versões postas não sendo mentira, são verdades até que se prove o contrário.

Como a versão e lembranças do senhor “João de Luiz”, que diz que tudo começou com um pequeno bar improvisado na descida da Rua Mauá, “em um Boqueirão”, em um lugar que, além de uma casa, era também um bar, conhecido pela alcunha de Café das Flores. O recinto ofertava bebidas e dependências para o usufruto dos clientes.

Através dos causos contados por este morador, é possível conhecer um pouco mais das tipicidades dos sujeitos do povoado que buscavam o pioneiro estabelecimento, que dizem “abriu precedentes para outros comerciantes do ramo”.

O Causo do Café das Flores


Tudo começou na década de 1950, com a inauguração do Café das Flores, um bar improvisado em uma casa simples no valão, depois de onde foi o antigo cemitério, próximo à atual Rua Afonso Pena.


O povoado de Teixeira de Freitas, que provavelmente, nessa época, era conhecido por outros nomes, se estendia do trevo da Casa Alves até a Praça dos Leões, ou seja, o Café das Flores ficava em um lugar desabitado do povoado.


Nessa casa-bar, segundo relato dos antigos moradores, uma mulher conhecida por Teresa e outras duas mulheres atendiam seus clientes em pequenos quartos anexados. Segundo contam, eram poucas mulheres para muitos homens que vinham de diferentes partes do povoado para vender suas produções na feirinha do comércio.

No Café das Flores, “as mulheres eram como mato-carrapicho: cortava, mas não matava”, por isso, eram as preferidas de todos os homens da zona urbana e da zona agrária, clientes que usavam cavalos e carroças como transporte para chegar até o recinto.

Se hoje é comum ver diversos carros estacionados em frente às casas de massagens, naquela época eram os animais que se destacavam, parados nas proximidades do lugar.

 O sucesso da casa foi meteórico, e por isso, não apenas no dia de feira livre, mas também em outros dias da semana, a casa passou a ser procurada por homens que sempre chegavam ao povoado para vender ou dar alguma coisa para a dona Teresa do comércio.

Segundo a narrativa do causo, por essa razão, não demorou para as mulheres, donas de casa e mães de muitos filhos, perceberem que os maridos tinham outros interesses além de vender produtos na feira.

Tanto que uma delas, “mulher de pavio curto”, tomada pela fúria da desconfiança, é lembrada por ter perguntado ao marido onde estava indo em um horário estranho. 

Ele, sem titubear, contou que estava indo levar uma banana-da-terra para uma cliente que tinha um ponto perto da feira. Ela então, com todas as forças, partiu para cima dele, acusando-o de estar ofertando outro tipo de banana no primeiro recinto da Rua do Brega.


Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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