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Por Daniel Rocha
"Há mais coisas entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia pode imaginar, assim como há muito entre as florestas e os rios do extremo sul da Bahia." É com essas palavras que Natalino A. Santos recorda os tempos do início da década de 1960, quando morava na Vila Marinha, hoje parte do município de Teixeira de Freitas. Ele e seu irmão navegavam diariamente pelo rio Itanhém para vender na feira local produtos agrícolas, como farinha e mandioca, colhidos na roça do pai.
Para chegar ao povoado, eles passavam horas em canoas, guiados por canoeiros, até a localização da ponte sobre o rio na BR-101. A viagem, feita por dentro da mata densa, apresentava perigos típicos da época, como o risco de ataques de animais selvagens e o temor de encontros com seres sobrenaturais.
Com um tom de suspense, Natalino relembra: "Para piorar a situação, os espíritos da selva atacavam os mais desavisados." Desde a infância, aprendeu com os adultos que, ao avistar um homem sentado ou chamando para o centro do rio, todos deviam fugir imediatamente, pois era o temido Caboclo-d'Água. Ele explica: “O Caboclo-d'Água é como o Caboclo da mata.
O inocente que entrava no raso da água se deparava com um homem em pé, pensando que estava seguro. Atraído, ele se aproximava e acabava morrendo afogado ou sendo puxado pelas correntezas do intenso Itanhém.”
De acordo com o relato de Natalino, o elevado número de afogamentos, especialmente entre crianças, registrado em 2012 e 2013 na cidade, está ligado à falta de conhecimento da lenda tanto por pais quanto por filhos. "Quando eu era criança na Vila Marinha, meu pai já nos alertava a ter cuidado e a não ficar muito tempo no rio por causa dessas aparições. Ele também contava que, ao navegar pelo Itanhém à noite, ouvia vozes e batuques vindos da mata."
Outro morador da cidade, conhecido pelo apelido de "Cheirinho", costuma narrar uma experiência que teve enquanto pescava no Itanhém. Ele afirma ter visto o lendário Caboclo sentado sobre as águas, deslizando como se fosse uma folha, vestindo apenas uma calça comum e um chapéu de palha.
Diante da aparição, um de seus amigos, fascinado pelo ser mítico, quase foi puxado para o fundo do rio. Apesar dos avisos para não seguir o chamado, o amigo ficou hipnotizado, incapaz de reagir. "Cheirinho" conseguiu despertá-lo a tempo. "Se ele tivesse sucumbido ao encantamento, o Caboclo teria levado mais um. Esse é o único jeito de se salvar: os medrosos despertando os corajosos."
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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Setembro 2024
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