História de Teixeira de Freitas - O Causo do Casamento na Nova América


Por Daniel Rocha.

Como foi descrito no texto anterior, na fazenda Nova América, que pertencia a cidade de Alcobaça, havia  a capela de São Benedito. Nesta capela de seis e seis meses, o padre franciscano Olavo Timmers comparecia para a realização de cerimônias coletivas de casamentos e batizados.

Foto Ilustrativa
Foi em uma dessas cerimônias que na década de 1940, o senhor Isidro Alves conheceu a sua esposa  Maria Silva. Ela moradora da fazenda Araras  estava de visita na Fazenda Nova América  para assistir uma missa com a família.

“Eu a vi de longe, ela morava na fazenda Araras, e eu nas proximidades da Nova América. Um dia depois, mandei lembrança por uma amiga dizendo que a achei bonita. Ela me respondeu com malcriação dizendo  " Defunto que não conheço nem rezo nem ofereço". Mas não desistir, mandei uma carta e fui atrás dela até conquistar o   amor”.

Mas não só ouviu diversas histórias  da recusa do frei Olavo  em casar pessoas que não estavam de acordo com as leis da igreja, como também presenciou certa vez uma briga por conta disto na fazenda .

“Era rigoroso, não casava ninguém que tivesse uma mancha de parentesco, menor de idade ou que já vivia amasiado com outra mulher. Uma vez presenciei uma discussão na fazenda Nova América.. .. havia um pessoal que  queria casar, mas por conta disto não pôde, o padre era bravo e não aceitou.”

Sobre o rigor do franciscano conta Ivanildo Ivo,morador da fazenda nova América, que de fato ele  não gostava de  casar   menores de idade e nem parentes de sangue.

Aproveitei a descontração da visita para informar que há registros que dão conta que era um costume antigo casar parentes. Diante da afirmação Ivanildo Ivo revelou que na família dele há vários casos de primos casados, desde muito tempo.
Se havia primos casados então  o frei casava, ou não casava?
“Ele não gostava mas realizava. Ele sempre dizia, vocês tem que casar sua filha com a filha do vizinho, a cuia  não pode ser do mesmo pau para a enxada trabalhar. Ele mesmo condenava e ao mesmo tempo abria exceções. Ele também dizia que casando com o vizinho, não haveria muita desavenças por causa de terra na hora do casamento.”

A briga presenciada por Isidro Alves  também foi testemunhada  por Walfrido Correia e Ivanildo Ivo. Segundo contam, ela começou pela manhã de um dia na década de 1940, quando o frei não quis realizar um dos casamentos na cerimônia coletiva.

Alguém  avisou para o frei que o noivo já era amasiado com outra mulher  o frei então pediu para o casal  se retirar do altar porque ele não iria celebrar o casamento deles. Após a saída o frei ordenou que as portas fossem fechadas, pois as famílias dos nubentes insistiam ao ponto de não permitir a realização de outros casamentos.
Por conta disso ,fora da igreja, os familiares dos noivos começaram uma violenta briga que deixou até feridos, conta Ivanildo Ivo:

“Só que naquela época quando tinha briga o pessoal usava como arma  facão e pau, percebendo que tal revolta poderia terminar em um grande massacre o frei pediu para abrir a porta, pegou o cajado e partiu para o meio da briga."

"Devagar, bem devagar foi tomando de um por um os facões e dando ao meu avô José Felix Correia. Era muita gente brigando, os caras vinham para acertar  , ele   batia com a madeira tomando suas armas das mãos . Assim  acabou a briga por casamento , fechou a porta da Igreja e deu prosseguimento a cerimônia.”

O franciscano Frei Olavo Timmers deixou o nome registrado no imaginário popular e na história das cidades de Alcobaça e Teixeira de Freitas. Ele faleceu no dia 22/04/1990. Mesmo depois de tanto tempo a passagem deste homem por essa terra prevalece ainda viva na memória e no coração de muitos moradores da região.

Fontes
HOOIJ, ELIAS. Os Desbravadores do Extremo Sul da Bahia: historia da presença franciscana nessa região – raízes e frutos. Belo Horizonte: Província Santa Cruz, 2011.
KOOPMANS, José. Além do eucalipto: o papel do Extremo Sul. 2. ed. rev. atual. Teixeira de Freitas: Centro de Defesa dos Direitos Humanos, 2005.
THOMPSON, E. P. Costumes em Comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
SAID.Fabio M.História de Alcobaça – Bahia (1772-1958). São Paulo 2010. Edição do Autor.
OFM.ORG – HISTÓRIA: Paróquia de São Bernado.http://www.ofm.org.br/default.  Acessado 22/08/14
Fontes Orais.
Ivanildo Ivo do Nascimento Correia . Agosto de 2014
Isidrio Alves . 2012
Foto: Ilustrativa.
Contribuiu para a realização deste trabalho.
Domingos Cajueiro Correia



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