Histórias de Teixeira de Freitas. Causos da Fazenda Cascata

Por Daniel Rocha*






Daniel Rocha

Nas décadas de 1940 e 1950, antes da formação do primeiro povoado de Teixeira de Freitas, BA, existiam fazendas como a Cascata e a Nova América, que pertenciam ao município de Alcobaça. Nessa época, as tradições e as crenças populares se entrelaçavam com a realidade do cotidiano dos moradores.

Na Fazenda Cascata, por exemplo, havia uma crença arraigada de que todos os filhos que não fossem batizados com o nome do santo de devoção, São José, estavam fadados a encontrar um destino trágico ao nascer. Tudo começou quando o antigo proprietário sentiu o peso dessa triste sina em seu primeiro filho, que não resistiu após o parto.

A dor e o luto tomaram conta da família, que mal conseguiam compreender os desígnios implacáveis do destino. No entanto, o segundo filho, batizado como José Bernardo, escapou da sina trágica e exibiu uma força de espírito surpreendente diante das adversidades que surgiram em seu caminho.

A esperança se reacendeu nos corações da família, mas logo foi eclipsada pela tristeza quando o terceiro filho também sucumbiu à mesma fatalidade cruel. As lágrimas e o desespero inundaram novamente a casa, deixando Quincas Neto imerso em um sofrimento indescritível.

No entanto, o quarto filho, José Antônio, surpreendeu a todos ao mostrar uma resistência incomum, como se estivesse protegido por alguma força invisível. A esperança e o temor se mesclavam na alma da família quando a quinta criança veio ao mundo, uma menina que trouxe consigo uma nova luz.

Embora não tenha sido batizada imediatamente, a tradição exigia que ela passasse pelo teste. Os meses se passaram, e a alegria que envolvia os pais logo foi obscurecida pela terrível doença que acometeu a pequena garota. Sua saúde se deteriorava rapidamente, deixando seus pais em desespero.

Foi então que a mãe, movida por uma esperança que se agarrava às suas entranhas, decidiu embarcar em uma jornada desesperada em busca de ajuda. Acompanhada por uma comadre, ela levou a menina doente em uma canoa, navegando pelas águas do rio Itanhém, até a cidade de Alcobaça, onde procurariam cuidados médicos.

Enquanto a canoa deslizava silenciosamente pelas águas, impulsionada pelo vai e vem do remador, a comadre que a acompanhava fez uma sugestão que parecia surgir de algum lugar além do tempo e do espaço. Ela olhou para a menina frágil e disse: "Essa criança nasceu no dia de São José. Por que não chamá-la de Maria José?" A mãe, com um misto de resignação e esperança, acolheu a sugestão, sentindo que havia algo de especial naquela simples ideia.

Quando finalmente chegaram a Alcobaça, a menina já havia começado a mostrar sinais de melhora. Seu corpo frágil se fortaleceu, e a doença parecia ter sido afastada. Impelida pela crença na força do nome e pelo milagre que testemunhara, a mãe decidiu batizá-la como Maria José.


Ao retornarem à Fazenda Cascata, o pai, Quincas Neto, aguardava ansiosamente a chegada de sua amada esposa e da filha caçula. Assim que a mãe lhe contou o milagre que acontecera, Quincas Neto ficou profundamente impressionado.

A cura miraculosa de sua filha coincidiu com a decisão de dar-lhe o nome de Maria José. Essa narrativa antiga ressurgiu em sua memória, fazendo-o recordar dos filhos que perdera e dos que ainda estavam vivos. Uma onda de gratidão a Deus e a São José se inflamou em seu coração.

Impulsionado por essa profunda emoção, Quincas Neto fez uma promessa solene naquele momento. Ele se comprometeu a erguer uma igreja em agradecimento às graças alcançadas.

O início da construção foi marcado por um gesto simbólico e poderoso: cada trabalhador lançava uma pedra nos alicerces do futuro templo, como uma forma de se sentir parte daquela fé e comunidade.

Assim, não apenas a igreja foi erguida, mas Quincas Neto transmitiu aos seus filhos a importância de batizar os futuros descendentes e netos com o primeiro nome de José, como uma forma de perenizar a devoção e a gratidão àquele santo protetor.

E assim nasceu uma tradição naquela família, onde todos os membros eram agraciados com o nome de José. Essa história, repleta de milagres e fé, foi transmitida de geração em geração, até chegar aos ouvidos de José Sérgio, o atual proprietário da Fazenda Cascata.

Em um momento de reflexão, diante da pequena igrejinha de São José, José Sérgio compartilhou essa memória que ecoava como um testemunho vivo do poder da crença e da força da tradição na região do extremo sul da Bahia.

A Fazenda Cascata, com sua história de milagres e devoção, desempenhou um papel fundamental na moldagem da economia e da identidade do próspero município de Teixeira de Freitas nas primeiras décadas de sua existência.

E, ao ouvir essa narrativa, podemos vislumbrar como a fé e as tradições ancestrais podem unir uma comunidade e manter viva a chama da esperança, mesmo nos momentos mais sombrios da vida.


Fontes

Teixeira de Freitas histórico. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/historicos_cidades/historico_conteudo.php?codmun=293135 > Acesso em: 05 de agosto 2013.

Entrevista com Zé Sergio, Maio de 2013.

Daniel Rocha da Silva*

Daniel Rocha da Silva* Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com.

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Fontes

Teixeira de Freitas histórico. Disponível 

Entrevista com Zé Sergio, Maio de 2013.

Daniel Rocha

Historiador, Bacharel em Serviço Social, Pós-Graduado em Educação à Distância (EAD), Cinéfilo e blogueiro criador do blog Tirabanha em 2010.

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