Um lugar de memória no bairro Nova América



Por Daniel Rocha

A apenas quatro quilômetros de Teixeira de Freitas, na Avenida Alcobaça, bairro Nova América, entre a BA-290 e um vale cortado pelo Córrego do Tampão e o rio Itanhém, encontra-se uma chácara que, além de abrigar árvores raras, preserva uma antiga farinheira e memórias de uma época em que essa área fazia parte da Fazenda Nova América.

A chácara, datada da década de 1940, é mantida em excelente estado por Walter Correia do Espírito Santo, que mora no local desde que nasceu e se dedica a preservar os aspectos rurais da época em que o povoado de Teixeira de Freitas começava a surgir.

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Farinheira

Além da farinheira, os visitantes podem conhecer construções antigas, como uma casa de 1970 e outra ainda mais antiga, feita de barro batido. No local, há também árvores nativas, como Jequitibá, Vinhedo e ipês, que dominaram a paisagem antes da intensa exploração madeireira, hoje praticamente deserta.

Os pais de Walter ocuparam a área em 1947, quando Tonina do Espírito Santo Correia, filha do proprietário da Fazenda Nova América, José Félix de Freitas Correia, herdou essa parte das terras. No entanto, a farinheira só foi construída no final da década de 1960, já que inicialmente a terra era usada para o cultivo de mandioca, processada na farinheira da “Prainha”, que funcionou até meados dos anos 1960.

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Árvores nativas

“Antes de termos a farinheira, quando queríamos fazer farinha, carregávamos tudo no lombo dos animais e seguíamos pela margem do rio Itanhém, em uma trilha que existia antes da abertura das estradas”, relembra Walter.

Ainda hoje, parte dessas trilhas que levavam ao córrego e ao rio Itanhém estão preservadas e despertam memórias de antigos moradores da região, como Isael de Freitas Correia e os habitantes da Fazenda Floresta, que costumavam transitar por ali.

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Farinheira

A farinheira era operada exclusivamente por membros da família, que produziam farinha, tapioca e beiju de goma para o consumo próprio. O excedente era vendido para armazéns e pequenos comércios do povoado, embora, segundo Walter, “a família não costumava vender na feira”.

Durante uma conversa sobre o cotidiano das décadas de 1950 e 1960, Domingos Cajueiro Correia, um dos memorialistas da família, que sempre contribui quando solicitado, relembrou figuras históricas da região, como o senhor “Negro Gê” da Fazenda Floresta, famoso por cumprimentar as pessoas agitando um facão no ar até tocar o chão. A família de Negro Gê costumava visitar a casa de Isael de Freitas Correia, localizada além da Chácara Nova América, onde hoje se encontra o bairro Almirante do Rio, atrás do batalhão de polícia.

“Ele sempre visitava nossa casa e trazia peixe do rio para minha mãe, Maria de Lurdes Cajueiro, que era parteira da família dele. Lembro que ele brincava dizendo que enfrentaria uma onça, mas seu grande medo era atravessar uma estrada de rodagem”, recordou Cajueiro.

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Casas antigas

Quando perguntado se Negro Gê era um “colonheiro”, Walter prontamente respondeu: “Sim, ele fazia parte desse povo”. “Colonheiros” são os descendentes de escravos da antiga Colônia Leopoldina, atual Helvécia, localizada no município de Nova Viçosa.

Assim como outras propriedades antigas, como a Fazenda Cascata, a Chácara Nova América é um verdadeiro lugar de memória. Ela guarda tanto objetos concretos quanto práticas e expressões imateriais de um passado que possibilitam à comunidade, à família e ao povo um sentimento de pertencimento e identidade.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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