Causos da “ Rua do Brega”: Parte 02







Por (Daniel Rocha)
No ano de 1970, a “Rua do Brega”, como era e ainda é conhecida a Rua Mauá, no centro da cidade de Teixeira de Freitas, viveu seu período de maior efervescência com o funcionamento de diversas casas de prostituição.
Em conformidade com informações prestadas por anônimos e ex-frequentadores, afirmo que eram tantas as casas e prostitutas, o que tornava impossível passar por lá e não perceber que ali, entre becos e ruelas, era um local destinado à atividade.
De passagem pelo então povoado de Teixeira de Freitas, no ano de 1977, o repórter Monforte, do Estado de São Paulo, observou que a zona de baixo meretrício era a região mais desenvolvida do povoado e afirmou que “de 76 para 77, o número de prostitutas dobrou, chegando a mais de duas mil.”
O repórter não deixou claro como chegou a esse número e nem se aprofunda no assunto. Alguns frequentadores, ouvidos por nós, e que não vamos revelar os seus nomes, discordam do número estimado por aquele jornalista paulistano. Um desses que frequentavam a “Rua do Brega”, sobre a quantidade de mulheres, relata que “eram muitas, de vários lugares, mas não chegava a tanto.”
Segundo alguns moradores ouvidos, devido ao rápido crescimento do povoado de Teixeira de Freitas, no final da década de 1960 e durante toda a década de 1970, as cidades vizinhas começaram a perder importância econômica. Isso, inclusive, também se refletiu na badalação da Rua Mauá, ou melhor, segundo diz a tradição, da “Rua do Brega”.
Assim como outros trabalhadores que migraram para o povoado em busca de melhores condições de vida e de dinheiro, as prostitutas também migraram para a Rua Mauá em busca de novos clientes.
De acordo com o ex-frequentador, de sobrenome Gomes Santos, algumas eram naturais da Rua Ubá, em Nanuque – MG, da Rua da Poeira, em Alcobaça – BA, da Rua Céu Azul, em Caravelas, e de outras localidades vizinhas. Estas ruas citadas, também chamadas de baixo meretrício naquelas cidades, tiveram seus auges na década de 1930, com a prosperidade daqueles municípios.
Se de fato existiu essa migração, uma das causas foi a decadência econômica das cidades de Caravelas, Nanuque, Alcobaça e Medeiros Neto, provocada pela abertura de estradas como a BR-101 e pela desativação da linha férrea Bahia-Minas.
Embora não haja estatísticas sobre o assunto, é possível obter alguns detalhes acerca dessas mulheres e sua rotina nos causos contados pelos munícipes, antigos frequentadores da conhecida “Rua do Brega”.
Apesar de carregados de anedotas e graças, os causos conhecidos e contados em rodas masculinas de bate-papo, realizadas em diversos bares e botecos da cidade, resgatam e preservam a memória local, além de jogarem luz sobre o “desconhecido” do passado da Rua Mauá, bem como de Teixeira de Freitas.
O causo da mudança
José Pereira saiu da cidade de Itabuna e chegou a Teixeira de Freitas no final da década de 1970, influenciado pelo irmão mais velho, Marcos Pereira, que enviava cartas falando que o lugar era bom para emprego e dinheiro.
Tal como o irmão Marcos, José chegou à cidade antes do pai, João Pereira. O primeiro emprego que encontrou, sem dificuldade, foi o de ajudante de caminhoneiro. Já tinha experiência como ajudante de transporte de cargas.
Certo dia, uma “mulher do brega” contratou os serviços do caminhoneiro para levar sua mudança para a cidade de origem, Medeiros Neto. A cliente prometeu uma boa quantia em dinheiro.
Em plena manhã, pararam na dita rua, pegaram a mudança e colocaram-na no caminhão. Antônio cedeu o lugar na cabine para a cliente e o seu filho, ambos moradores daquele lugar.
Foi na carroceria até o destino, enfrentando os desafios da estrada. Durante a viagem, a mulher não se manifestou em nenhum momento. Ao chegar em Medeiros Neto, após o descarregamento da mudança, o motorista apresentou o valor do serviço prestado. A mulher, de forma inesperada, recusou-se a pagar pelo trabalho.
O caminhoneiro, então, ameaçou chamar o “soldado” para denunciar a recusa. Depois de muita discussão, a mulher sacou da aba do vestido uma quantidade volumosa de dinheiro e pagou o combinado. O caminhoneiro, antes de partir, olhou com olhar de intimidade para a mulher e disse:
– De graça neste mundo nem seu amor. Entrou no caminhão e seguiu viagem.
Fonte:
MONFORTE. Carlos. A pose inlegal de terras provocas mortes.Maio – 1977.11º caderno.O estado de São Paulo.
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