Durante os anos de 1980 e início dos anos de 1990 ser agraciada com um título de beleza, como o de Miss, supostamente, aumentava a esperança de qualquer garota conseguir destaque em capas de revista e jornais que reforçavam o discurso que a beleza era um passaporte para o sucesso e uma boa posição social.
Nessa época, no extremo sul da Bahia, concursos de beleza eram realizados em todos os lugares e cidades da região. Havia concursos para a escolha da Miss escola, Miss da cidade, da Rainha do Milho, do Carnaval, da Gincana e da Garota Carinho, entre outros.
Em janeiro de 1986, por exemplo, destacou o Jornal A tarde, que a cidade de Itamaraju organizou e elegeu sua "Garota Carinho" Veruscka Carneiro como a mais bela entre as concorrentes. Além da faixa de primeiro lugar, a vencedora também conquistou o direito de participar de uma etapa regional na cidade de Itabuna.
Embora sem muitas fontes escritas sobre, estima-se que em Teixeira de Freitas os concursos de beleza também foram constantes nas referidas décadas. De maneira que em 1991 uma de suas cidadãs, Isolda Vasconcelos , conquistou o título de Miss estadual.
Nascida na cidade, a modelo Isolda Vasconcelos alcançou o posto de figura mais popular de Teixeira depois de ter conquistado, com apenas 12 anos, o concurso de Miss Estudantil em 1985 e o título de Miss Bahia em 1991.
De família de classe média a modelo representava os ideais e o tipo de mulher que toda garota deveria ser. A prova da sua popularidade é que ao publicar uma entrevista com a modelo em Março de 1992, por exemplo, a revista local Regional Sul destacou: “atendendo às inúmeras solicitações de nossos leitores. Fizemos uma entrevista com a Bela Isolda”.
Ocorre que ao analisar a entrevista publicada na revista fica evidente, a meu ver, que a modelo não reforçou os conceitos vigentes sobre estética, sucesso e fama que levava milhares de meninas aos concursos de beleza e sonhar com uma "liberdade" subsidiada pela fama.
Por exemplo, ao ser interrogada sobre o que pensava em relação à carreira de modelo no Brasil a Miss que já havia passado a faixa em fevereiro daquele ano respondeu: “Infelizmente no nosso país a profissão não está sendo considerada, digo isso pelo alto índice de prostituição que existe no meio, hoje em dia para se ter um bom desempenho é preciso que se submeta às certas coisas, isso me deixa um pouco decepcionada”.
Ao ser indagada sobre o futuro e ambições profissionais afirmou, brevemente, expressando liberdade : “pretendo estudar muito fazer faculdade de economia.” Reforçando suas perspectivas, quando quis saber a revista qual conselho teria para dar às garotas que sonhavam em ser uma modelo conhecida, frisou.
“Que estudem muito e se preparem não para viverem num mundo de sonhos, mas sim, para serem, fortes e dignas dentro da profissão.”
De acordo com as minhas interpretações para os fatos e a contextualização dos mesmos a postura da Miss, durante a entrevista, de não glamourizar os discursos existentes sobre a profissão de modelo, foi de contra os estereótipos de mulher sempre bela e perfeita que não existia e não existe na vida cotidiana.
Postura bem-vinda em uma sociedade onde as mulheres, filhas de trabalhadores e trabalhadoras, privadas pela oferta insuficiente de vagas nas unidades de ensino técnico e superior, começavam a ter como maior preocupação a inserção no mercado de trabalho pela competência e estudo e não pela beleza.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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