Composta por jovens de 14 a 17 anos do bairro homônimo, a gangue emergiu em um contexto de pobreza e marginalização, refletindo as dificuldades enfrentadas por uma comunidade marcada por transformações urbanas e sociais.
O bairro da “Lagoa” recebeu esse nome em referência a um antigo lago que, após o soterramento por detritos da Serraria Ronimar e pela construção do Shopping Teixeira Mall, se transformou em um espaço onde a violência e a rivalidade ganharam protagonismo.
Os relatos sobre a gangue permeiam o imaginário popular local, mas muitos moradores relutam em discutir o tema, preferindo manter-se em silêncio sobre as histórias que cercaram o grupo.Recentemente, Lucian Salviano, estudante do curso de Humanas da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e morador da comunidade, começou a investigar o impacto da violência na cidade e as origens da gangue.
Em suas pesquisas, ele conversou com Abel Nascimento, um ex-integrante da gangue que compartilhou detalhes sobre a formação e a extinção do grupo. Segundo Abel, a gangue se formou de maneira orgânica, entre brincadeiras e jogos de futebol nas proximidades do pó de serra. A interação com o espaço público e a proximidade dos jovens foi fundamental para a criação do grupo, que se uniu em defesa do bairro.
O ponto de encontro era a Cabana Nova Onda, um clube local onde rivalidades com outros grupos começaram a surgir, especialmente em decorrência de relacionamentos amorosos. Embora não tivesse uma estrutura formal, a gangue contava com um líder e se reunia em locais como a Praça dos Leões e o Beco do Belo. No entanto, a rivalidade com outros grupos acabou por transbordar para a violência, especialmente entre 1994 e 1996.
O uso de armas de fogo tornou-se comum, resultando em confrontos que levaram a incidentes fatais. Um momento crítico ocorreu durante a Exposição Agropecuária, ano não informado, quando uma troca de tiros entre gangues resultou em uma intervenção policial que deteve 170 pessoas para atividades socioeducativas.
A morte de um dos integrantes, conhecido como "Helinho", que foi brutalmente executado, serviu como um divisor de águas para o grupo. Abel acredita que esses eventos culminaram no amadurecimento dos jovens e, eventualmente, na extinção da gangue. Segundo ele, apesar do histórico de violência, os ex-integrantes são, na essência, pessoas comuns, que buscavam reconhecimento social em um contexto de exclusão e dificuldades.
Hoje, muitos ainda carregam os ecos do passado, mas Abel ressalta que o que aconteceu na Lagoa é parte de uma história mais complexa, marcada por questões sociais como pobreza, falta de oportunidades e marginalização.
Por fim, o legado da "Gangue da Lagoa" é um lembrete de que a luta por identidade e pertencimento pode, em muitos casos, se confundir com a violência, destacando a necessidade de uma reflexão mais profunda sobre as causas que levam os jovens a se unirem em grupos em busca de proteção e reconhecimento.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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