Na década de 1970 com a chegada da superintendência da polícia militar no então povoado de Teixeira de Freitas, BA, a violência passou a ser contida através de constantes rondas policiais. Segundo um causo rememorado por moradores, essa insistente vigilância provocou a ira dos boêmios e do capoeirista “Poti Loiro”, lembrado como um herói às avessas e popular.
Segundo alguns relatos, até a década de 1960 não havia policiamento intensivo em Teixeira de Freitas e por isso a população convivia com os boatos sobre a ação de pistoleiros, brigas e assassinatos ocorridos em meio a escuridão de um lugar abastecido por geradores elétricos, ativos apenas até às dez horas da noite.
Essa rotina, perceptível para quem visitava o povoado, e bem visível para quem morava nele, só foi modificada com a chegada da rede elétrica e da superintendência da polícia militar, que prontamente instituiu a vigilância e rondas policiais em uma época marcada pela expansão urbana e demográfica e constantes exibições de filmes do Bruce Lee na tela do primeiro cinema da cidade, o Cine Elisabete.
Embora essas transformações possam ter sido recebidas com euforia pelos moradores locais, a constante vigilância policial em certas ocasiões provocou também a insatisfação de grupos e pessoas habituadas a circular livremente pelo lugar, revelam os causos da época.
Conforme um dos causos ouvidos pelo capoeirista Sebastião Sérgio, filho de migrantes mineiros, em uma das rodas de capoeira que frequentou quando criança, realizada na casa de migrantes soteropolitanos na década de 1970, alguns praticantes da arte marcial como “Poti Loiro” tiveram problemas com recrutas, policiais, responsáveis pelo policiamento local.
Na narrativa ouvida e rememorada por ele, no início da década de 1970 quando estava a passar pela praça, hoje chamada de Praça da Bíblia, o jovem “Poti” um magro, alto, branco, cabeludo, vestido a maneira hippie, que gostava de fumar livremente “peitou” oito policiais armados nas imediações da antiga Praça em demonstração de força, valentia e contestação.
Segundo ouviu dizer toda essa reação foi porque o rebelde “Poti Loiro” teve a infelicidade de cruzar o seu caminho com nada mais, nada menos que oito recrutas armados que ordenados por superiores, o repreendeu com violência e brutalidade diante de diversos moradores e passageiros que aguardavam o ônibus na Rodoviária , hoje conhecida como “Rodoviária Velha”.
Ainda de acordo com a narrativa do capoeirista “Já havia entre eles uma rixa”e por esse motivo foi convidado a se retirar do lugar de modo que ao ser tocado com força “Poti” teria reagido em fúria dando mostra de grande habilidade , golpes rápidos como saltos, parafusos mortais e meia-lua que levou ao chão os “repressores” que na sequência o conduziu até a delegacia, solto horas depois do ocorrido.
Segundo um morador, que preferiu contribuir para essa construção de forma anônima, ao ser perguntado se conhecia o causo “Poti Loiro” e as razões da confusão, respondeu que sim ressaltando que naqueles tempos a falta de iluminação pública favoreceu muito para que houvesse embates e confrontos dos responsáveis pelo policiamento com os boêmios e outros moradores.
“Só existia iluminação via gerador elétrico que funcionava até às dez horas da noite. Por essa razão recrutas percorriam as ruas do então povoado repreendendo às pessoas, sobretudo os boêmios na Rua do Brega com certa dose de exageros… Acontece que Poti era contra esse tipo de repreensão e quando presenciava ou era repreendido de alguma forma reagia com força… Eu não me lembro dessa história da Praça da Bíblia, mas pode ter acontecido. Sei de uma que ele afrontou os recrutas que repreendiam um grupo de estudantes que namoravam na rua durante a noite (…). Poti era muito querido por todos e às vezes temido”.
Ainda de acordo com o morador que gosta de lembrar-se de sua vida “pregressa” como boêmio contumaz na Rua do Brega, rua boêmia, “Poti” era de família rica e os policiais “considerava isso” antes de fazer qualquer coisa com ele. “Daí também sua coragem e valentia”.
Já Mário Santos Almeida, natural de Medeiros Neto, quarenta anos morador na cidade, afirma ter tido a oportunidade de “conhecer de vista” Poti Loiro era “uma figura conhecida e popular que não passava despercebido em Teixeira”.
Em conformidade com essa perspectiva, Mário Santos o descreveu como um Bruce Lee local, um rapaz forte, rebelde que era compreendido como um “brigão e valente”, mas que na realidade raramente se envolvia em confusões.
Contudo, lembra, que quando “Poti” era de alguma forma repreendido, resistia com ânimo, vigor e com a boa capoeira que lhe conferiu a fama, por isso acredita que o causo do enfrentamento dado na Praça da Bíblia é verdadeiro.
Mário também ratifica que naqueles tempos os recrutas reagiram de forma ríspida, “tinham suas razões.” Porém acredita que o confronto não tem nada a ver com o fato de Poti ser um capoeira ou qualquer outra coisa.
“Na verdade ninguém gostava da vigilância desses agentes (…). Todos tinham vontade de partir pra cima, porém só “Poti” tinha o tamanho, a força, a coragem e o status para isso”.
Ao ser informado desses novos detalhes Sebastião Sérgio “o mestre Pinote” afirmou apenas que na versão que conhece, a que ouviu quando criança, “Poti Loiro” enfrentou e derrotou com golpes de capoeira policiais armados no centro do povoado, não sendo possível discordar ou concordar com outras perspectivas.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
O conteúdo deste Site não pode ser copiado, reproduzido, publicado no todo ou em partes por outros sites, jornais e revistas sem a expressa autorização do autor. Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário