Por Daniel Rocha
Na década de 1970, a violência em Teixeira de Freitas, BA, começou a ser controlada com a chegada da superintendência da Polícia Militar no então povoado. A vigilância intensificada, com rondas policiais frequentes, gerou revolta entre os boêmios locais, incluindo o capoeirista “Poti Loiro”, um herói de uma faceta peculiar, reconhecido pela sua popularidade.
Até a década de 1960, a cidade vivia sem um policiamento efetivo, convivendo com boatos sobre pistoleiros, brigas e assassinatos que permeavam a escuridão de um lugar iluminado apenas por geradores elétricos, que funcionavam até às dez da noite.
Essa realidade, que impactava tanto os visitantes quanto os moradores, mudou com a instalação da rede elétrica e a superintendência da Polícia Militar, que estabeleceram a vigilância em um período de crescimento urbano e demográfico, coincidente com as exibições frequentes dos filmes de Bruce Lee no Cine Elisabete, o primeiro cinema da cidade.
Enquanto essas mudanças foram recebidas com entusiasmo por muitos, a vigilância policial gerou descontentamento entre aqueles que estavam habituados à liberdade de circulação.
Causos da época revelam essa tensão. Sebastião Sérgio, capoeirista e filho de migrantes mineiros, recorda uma roda de capoeira na casa de migrantes soteropolitanos nos anos 1970, onde ouviu histórias sobre os confrontos de “Poti Loiro” com os recrutas policiais.
Em um relato marcante, ele descreve que, no início da década de 1970, “Poti”, um jovem magro e cabeludo, se deparou com oito policiais armados na antiga Praça da Bíblia.
Vestido ao estilo hippie e sempre com um cigarro à mão, ele se opôs a eles, demonstrando coragem ao “peitar” a autoridade policial. A confrontação teve início quando “Poti” foi abordado de forma brusca, gerando uma reação explosiva por parte dele, que utilizou sua habilidade na capoeira para desferir golpes rápidos que derrubaram os policiais.
O depoimento de um morador anônimo corrobora essa narrativa, ressaltando que, naqueles tempos, a falta de iluminação pública contribuiu para os conflitos entre os policiais e a população boêmia.
O morador recorda que a iluminação limitada pelos geradores até às dez da noite permitia que os recrutas perseguissem os boêmios com um exagero que beirava o abuso. “Poti”, conhecido por sua resistência, frequentemente se opunha a essa repressão.
Outra testemunha, Mário Santos Almeida, que vive em Teixeira há quarenta anos e é natural de Medeiros Neto, descreve “Poti Loiro” como uma figura marcante e reconhecida, comparando-o a um “Bruce Lee local”.
Ele confirma que, embora “Poti” fosse conhecido por sua bravura, ele raramente se envolvia em confusões. Mário acredita que a história do enfrentamento na Praça da Bíblia é verdadeira, ressaltando que os recrutas agiam de maneira ríspida, mas que o descontentamento da população não se devia apenas ao caráter de “Poti”, mas à vigilância em geral.
Sebastião, conhecido como “mestre Pinote”, também reforça que, na versão que ouviu quando criança, “Poti Loiro” enfrentou policiais armados no centro do povoado, permanecendo neutros em relação a outras versões.
As histórias que circulavam naquele tempo não apenas falavam de bravura e resistência, mas também evidenciaram o contexto social e cultural da região, onde as tensões entre autoridade e liberdade eram palpáveis.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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