Relações fronteiriças no Extremo Sul da Bahia - Parte 01


Por Daniel Rocha

O extremo sul da Bahia é uma região de divisas, aberta às interações com a realidade política, agrícola, econômica e social dos estados vizinhos do Sudeste, como Espírito Santo e Minas Gerais. É um território extenso e perigoso para os trabalhadores comuns e juridicamente vulneráveis, como os itinerantes do café.

Em 22 de junho de 1999, uma operação conjunta do extinto Ministério do Trabalho, do Ministério Público, da Procuradoria da República e das polícias Civil e Federal no Espírito Santo identificou 38 pessoas em situação análoga à escravidão em uma fazenda na cidade de Santa Teresa, localizada a 339 km de Teixeira de Freitas, entre as quais estavam trabalhadores da cidade.

Segundo o jornal Folha de São Paulo, em 24 de junho de 1999, esses trabalhadores rurais foram "aliciados para fazer colheita de café" e estavam na fazenda há dois meses, sem registro em carteira de trabalho, sem salários e sem poder sair do local devido à falta de dinheiro e de transporte.

Conforme denúncias, os trabalhadores, aliciados nas regiões de Teixeira de Freitas (BA) e Teófilo Otoni (MG) com a promessa de ganhar R$ 4 por cada saca de café, eram mantidos em alojamentos precários, com alimentação insuficiente e sem pagamento. Por essa razão, o fazendeiro foi preso em flagrante por trabalho análogo à escravidão. Os trabalhadores foram então levados de volta às suas cidades.

Essa situação não é um problema do passado. Em maio de 2019, o site capixaba tconline.com informou que um homem acionou a polícia para relatar que ele e outros seis trabalhadores, contratados por um aliciador para a colheita de café em Jaguaré (ES), estavam sendo impedidos de retornar para Teixeira de Freitas, sua cidade de residência.

Conforme o site, todos estavam sendo mantidos em condições subumanas e, assim como em 2001, foram aliciados em sua cidade natal com promessas de bons ganhos. Encontrados pelas autoridades, eles passavam por dificuldades em seu local de repouso. O responsável pela situação não foi preso.

Esses eventos evidenciam que, nas relações de trabalho estabelecidas, a proteção jurídica é fundamental para os trabalhadores fronteiriços, cuja área de atuação é muito mais ampla, perigosa e complexa do que as delimitações oficiais da região de transição entre o Sudeste e o Nordeste brasileiro, conhecida como extremo sul da Bahia.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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