Caravelas 1888: Um Elixir no combate a sífilis






Por Daniel Rocha

Do final do século XIX ao início do século XX, remédios feitos com infusões de ervas e folhas, criados e vendidos por boticários e pequenos farmacêuticos, eram muito populares entre os brasileiros. Na cidade de Caravelas, no extremo sul da Bahia, o “Elixir de Tibornina” fez sucesso especialmente no tratamento da sífilis.

De acordo com uma propaganda publicada em um jornal em 1909, o “Elixir Tibornina” estava em alta e era descrito como um “específico eficaz da Flora Brasileira”, prometendo a “cura radical das moléstias e das impurezas do sangue, por mais crônicas e rebeldes que sejam.” O jornal, conhecido por divulgar relatos de usuários e médicos, ajudava a dar credibilidade ao produto natural.



Na edição de 1º de dezembro de 1888, encontramos no jornal um relato do Dr. José Carlos Gomes da Silva, que trabalhava como médico em Caravelas. Ele fala sobre o uso do "Elixir de Tibornina", criado pelo farmacêutico Floriano Serpa, e como ele tem ajudado no tratamento da sífilis e suas diversas formas. O Dr. José Carlos afirma:

“Confirmo que tenho usado o ‘Elixir de Tibornina’, do farmacêutico Floriano Serpa, e sempre tive ótimos resultados no tratamento da sífilis em suas várias manifestações. Por isso, prefiro ele a qualquer outro remédio que indicam para essas doenças.”

A cidade de Caravelas tinha uma grande importância nessa história. Naquele tempo, seu porto era um dos mais movimentados da região, com a Companhia Baiana e a Companhia Espírito Santo e Caravelas de Navegação fazendo paradas regulares.

Além disso, a cidade era o ponto final da estrada de ferro Bahia-Minas, que ligava a região à fronteira com Minas Gerais. Esse movimento todo ajudava a aumentar a credibilidade do relato, pois com tantas pessoas circulando, o contágio de doenças, como a sífilis, era bem mais fácil, algo comum no Brasil daquela época.

Gilberto Freyre, em seu livro Casa Grande e Senzala, menciona que, desde o século XVIII, o Brasil era visto por estrangeiros como “a terra da sífilis por excelência.” Ele relaciona a disseminação da doença ao desejo sexual dos colonizadores e dos negros escravizados, como se fosse uma consequência direta da colonização.

Propaganda da Companhia de Navegação


No entanto, essa visão simplifica demais a questão, pois ignora toda a complexidade social e histórica, colocando a culpa na natureza dos grupos envolvidos. Isso deixa de lado a falta de políticas de saúde e as condições de vida ruins que realmente facilitaram a disseminação das doenças.

Freyre critica a publicidade de remédios e elixires para tratar doenças venéreas, chamando tudo isso de “escandaloso”. No entanto, ele não leva em conta o contexto em que essas práticas surgiram. O que ele vê como uma crítica à comercialização da saúde pode ser, na verdade, um sinal de desespero por soluções em um cenário onde o Estado estava ausente. Assim, sua análise acaba não considerando as condições sociais e econômicas que moldavam a vida nas cidades portuárias, como Caravelas.

Esses pontos indicam que o movimento constante de trabalhadores e passageiros em Caravelas contribuiu para o aumento dos casos de sífilis, uma das doenças mais combatidas pela saúde pública nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX, especialmente em cidades portuárias.

O uso do “Elixir de Tibornina” pelo Dr. José Carlos, que foi anunciado em um jornal de Salvador em 1908, mostra bem essa realidade, revelando como as cidades portuárias tinham um papel crucial na disseminação e no tratamento de doenças venéreas no Brasil daquele período.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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Fontes e referências:

Diário de Notícias 02 de maio de 1900. Acervo site tirabanha.

SAGGIORO. Elder Sidney. SINTOMAS DO MOMENTO: MEDICAMENTOS E PROPAGANDA NO “COMÉRCIO DO JAHÚ” : https://www.unisagrado.edu.br/custom/2008/uploads/anais/historia_2016/Sintomas_do_momento_Elder_Saggioro.pdf


FREYRE. Gilberto. Casa Grande e Senzala .

Foto : Caravelas.




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