Por Daniel Rocha
Com o lançamento do Orkut nos anos 2000, o Brasil entrou de vez na era das redes sociais. Até então, a interação virtual era restrita a ferramentas como e-mails, sites, blogs e salas de bate-papo.
Logo, o Orkut revolucionou esse cenário, transformando a maneira como os brasileiros se comunicavam. E a cidade de Teixeira de Freitas, no extremo sul da Bahia, também foi impactada por essa nova onda digital.
Na mesma época, as lan houses começaram a se multiplicar pela cidade, democratizando o acesso à internet e inserindo mais pessoas nesse novo espaço de socialização virtual.
Foi nesse contexto que, em 2004, surgiu uma das comunidades virtuais mais populares da cidade, a "Teixeira de Freitas-BA", uma espécie de precursor do que hoje seriam as páginas no Facebook.
Nessa comunidade, os moradores encontravam um espaço para conversar sobre tudo: eventos, festas, acontecimentos locais e, claro, os assuntos do dia a dia. Um exemplo de como o Orkut influenciou as interações sociais foi a enquete postada em 22 de agosto de 2007, pelo perfil de Fábio Nogueira Soares. Ele queria saber qual era o ritmo musical preferido pelos teixeirenses.
A pergunta rendeu resultados interessantes: o Axé liderou a preferência com 31%, seguido de Pagode e Rock, empatados com 24%, e o Forró, com 22%. Esse resultado reflete a diversidade cultural da cidade, além de mostrar como o Orkut se tornou um meio de expressão para as pessoas.
Vale ressaltar que a enquete também gerou críticas, como a do perfil “Dhea”, que reclamou da ausência do gênero Arrocha na lista, questionando o reconhecimento cultural dessa vertente musical tão popular no estado.
Além das questões culturais, a comunidade do Orkut também se tornou um espaço de discussões políticas. Em 2008, por exemplo, o perfil “Betinho Chagas” fez uma enquete para avaliar a administração do então prefeito, Padre Apparecido Staut.
O resultado foi polarizado: 42% dos participantes classificaram a gestão como "péssima", enquanto apenas 11% a consideravam "Ótima". Apesar das críticas, o prefeito foi reeleito naquele mesmo ano, mostrando que a insatisfação registrada na rede social não refletia necessariamente o posicionamento do eleitorado nas urnas.
Outro exemplo de participação política online aconteceu em 29 de agosto de 2010, quando um internauta anônimo abriu um fórum na comunidade para questionar o abandono da BR-101, no trecho entre a divisa BA-ES e Itamaraju.
O autor da postagem comparava a situação de Teixeira de Freitas com outras regiões do estado, que estavam recebendo melhorias e manutenção. A crítica era especialmente direcionada aos deputados locais, em particular um famoso radialista, que, segundo o usuário, não faziam nada para melhorar as condições da rodovia.
O Orkut, então, cumpriu um papel relevante na ampliação do debate público em Teixeira de Freitas, permitindo que os cidadãos expressarem suas demandas e opiniões sem a intermediação dos meios de comunicação tradicionais, como rádio e televisão, contudo, a falta de uma mediador qualificado nos espaços de debate, produziu conclusões limitadas e ambíguas.
As enquetes e interações da época, embora tenham mostrado uma pluralidade de opiniões, também evidenciam um engajamento político marcado por insatisfações pontuais e críticas pouco fundamentadas. O descontentamento com a administração pública, por exemplo, revelou mais um sentimento de frustração difuso do que uma compreensão aprofundada das políticas locais, o que reflete a ausência de uma educação política sólida e de meios adequados de conscientização.
A comunidade “Teixeira de Freitas-BA”, criada em 2004 e desativada com o fim do Orkut em 2014, deixou um legado ambíguo. Embora tenha registrado memórias e discussões do período, sua influência no desenvolvimento crítico da população foi bem limitada.
O impacto dessa fase inicial da era digital acabou não sendo tão grande quanto se esperava. A comunicação nas redes sociais seguiu um padrão sem muita mediação qualificada, e o uso das plataformas como ferramentas de transformação social foi bem passageiro.
E, o curioso é que esse cenário se repete até hoje, com um monte de redes sociais surgindo, mas que, no fim das contas, não conseguem promover debates realmente importantes ou gerar mudanças de verdade no mundo fora das telas, que não é guiado pelos algoritmos dessas plataformas.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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Fonte: Acervo Site Tirabanha
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