Relatos do Mandiocal em Teixeira de Freitas




Por Daniel Rocha

Na década de 1950, um verdadeiro paraíso rural escondia-se na Bahia, onde a simplicidade se mesclava com uma indústria secreta e poderosa na região de fronteira das antigas delimitações do povoado de Alcobaça e Caravelas, onde surgiu a povoação de Teixeira de Freitas, outrora chamada de mandiocal, motivado pela exploração da madeira. Seu ouro era a mandioca, e seus agricultores habilidosos, verdadeiros comerciantes.


Era uma terra de abundância, onde extensas plantações de mandioca espalhavam-se como tapetes verdes. Nela, homens como "Manoel de Etelvina" desbravaram as terras, estabelecendo roças que prosperaram próximas ao boteco repleto de histórias como a da briga que fez surgir a alcunha Tira-Banha, nas proximidades da praça dos leões na década de 1960.


Nas plantações de José Félix de Freitas e Isael de Freitas Correia, da Fazenda Nova América, o tesouro da mandioca florescia, abastecendo as fornalhas das casas de farinha que ocupavam toda família e moradores da comunidade ou de outras partes que também faziam uso das estruturas para beneficiar a mandioca colhida em diversas pequenas roças existentes no território onde hoje a cidade ocupa.


Segundo levantamento realizado por Domingos Cajueiro Correia, na época, moradores como "Seu Albino, o descendente de negros escravizados", cujas mãos ágeis arrancavam a mandioca em tempo recorde, em uma roça existente onde hoje fica o supermercado Casa Grande, eram muito conhecidos por transportar até a casa de farinha do trevo, no Bairro Mirante do Rio, quilos de mandioca para serem beneficiados.


Isso porque as farinheiras não atendiam apenas a fazenda onde estava localizada, mas a região próxima. Nas "cozinhas de farinha", a mandioca era transformada também em beijus e biscoitos pelas mulheres trabalhadoras do campo, alimentos que saciavam tanto os desejos das cidades vizinhas, como Nanuque e Teófilo Otoni, quanto de lugares mais distantes, Salvador e Rio de Janeiro, depois de uma dificultosa viagem até os portos, vendas e feiras.


Depois de beneficiado o produto, os habitantes dessa região, verdadeiros homens da terra, enfrentavam obstáculos inimagináveis para levar a preciosa colheita aos mercados sedentos por farinha e delícias feitas a partir da mandioca, porque até a abertura das primeiras estradas em meados da década de 1940 e 1950, os rios e estradas não passavam de desafios a serem superados.


Restava aos trabalhadores recorrer à navegação através de canoas arcaicas que navegavam pelo Rio Itanhém em busca de estações próximas da estrada de ferro da Bahia-Minas e do porto onde ancoravam os navios da Companhia Baiana de Navegação, em Caravelas, meios que permitiam a exportação para além da isolada região.


Outra casa de farinha que, segundo os levantamentos de Cajueiro, chegou a ocupar uma posição central de referência, foi uma localizada em uma fazenda onde hoje está o bairro Teixeirinha, durante o período das décadas de 1930 a 1960. Essa localidade aproveitava a proximidade do rio Itanhém e do Córrego Charqueada para realizar as atividades relacionadas ao processamento da mandioca.


No entanto, a maior casa de farinha da região, que operava em ritmo industrial, era a Casa de Farinha da Fazenda Cascata. Essa unidade manufatureira do século XIX também beneficiou o café nas primeiras décadas do século passado, Século XX.


Movida à tração animal e construída com madeira de lei, essa casa de farinha pode ser considerada a primeira experiência de atividade industrial de grande escala realizada no hoje território da cidade de Teixeira de Freitas.  Atualmente, esse equipamento pode ser visitado no Museu da Fazenda Cascata, um patrimônio que resiste ao tempo e foi considerado pelo IPAC (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia) como de relevante interesse arquitetônico.


Assim, nas décadas anteriores e de 1950, a região onde surgiu Teixeira de Freitas desempenhou um papel importante como uma região produtora de mandioca e farinha, onde os moradores eram agricultores habilidosos, enfrentando as dificuldades de acesso e escoamento para cultivar e processar a raiz, fornecendo produtos essenciais para as regiões vizinhas e fronteiriças.


Esses relatos são um testemunho valioso do desenvolvimento econômico e da cultura local e revelam aspectos da importância da mandioca na construção da identidade alimentar e comercial de Teixeira de Freitas, que dentre suas primeiras alcunhas, foi chamada de “Mandiocal", hoje grande consumidora e produtora da região.



Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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