Teixeira de Freitas 1992: Bomba na emissora de rádio



Por Daniel Rocha


No dia 21 de julho de 1992, uma terrível explosão sacudiu a cidade de Teixeira de Freitas-BA, repercutindo em todo o estado e deixando marcas profundas na memória coletiva. A madrugada trouxe consigo uma bomba caseira que encontrou seu alvo nas instalações da Rede Sul Bahia de Comunicação. 


Precisamente às 3h da manhã, a explosão ecoou no segundo andar do prédio que abrigava o departamento de jornalismo das rádios Caraípe FM e Difusora AM e equipamentos da torre de retransmissão de um  canal de TV, SBT,  as emissoras ficaram fora do ar.


A família do prefeito da cidade, Francistônio Pinto, detinha a propriedade da emissora, que desempenhava não apenas o papel de veículo de informação, mas também um espaço de oposição ao governo do Estado, liderado pela segunda vez por  Antônio Carlos Magalhães (PFL). Denúncias de crimes na região vinham sendo proferidas, ampliando o cenário de tensão.


Na sequência da explosão, os estragos foram consideráveis. As instalações da emissora foram reduzidas a escombros, levando a uma interrupção das transmissões. Ferimentos foram infligidos ao vigia Antonio Gomes da Silva. O relato do vigia revelou que, por volta das 3h, ele havia deixado a recepção momentaneamente, retornando para se deparar com o impacto avassalador da explosão.


O ataque não apenas danificou estruturas, mas também atingiu símbolos de poder. A emissora, pertencente à família do prefeito Francistônio Pinto, carregava em sua voz o espírito da oposição política local e o fazia com mais vigor desde que um dos seus jornalistas, Ivan Rocha, havia sido levado em abril de 1991, por  policiais para nunca mais ser encontrado. Ele  vinha denunciando o envolvimento de policiais e políticos  com o crime na região.


Em um ato de protesto após o desaparecimento do jornalista, a emissora passou a reproduzir diariamente nos intervalos a música “Achados e perdidos”, de Gonzaguinha, seguida pela voz do jornalista Romildo Martins, lembrando  os dias que se passara desde o desaparecimento de Ivan Rocha, sem respostas à sociedade  e a família.







Em 2018, o falecido jornalista Ramiro Guedes revelou em uma entrevista ao site que teve a ideia da gravação do spot e que escolheu a música,  com a  interpretação  de Marília Medalha,  por  ser uma abordagem sobre os desaparecidos políticos.  Que a  campanha musical provocou reações imediatas e foi amplamente reproduzida em várias rádios da região e dos estados vizinhos, em apoio aos que condenavam o sequestro e a suposta conexão política dos sequestradores. 


“Ainda hoje a música é cantada por populares da cidade. Na época, havia um embate entre os dois grupos políticos, a da família Pinto e do senhor Timóteo Brito, com isso, a luta para se descobrir o destino do jornalista tomou contornos políticos que até hoje permanecem na lembrança da população”, frisou Ramiro.


A campanha pode ter sido o fator que desencadeou o atentado à bomba? Sim,  Contudo, duas narrativas populares circularam pela cidade naquela época: uma delas atribuía ao candidato de oposição a autoria do atentado a bomba, enquanto a outra sustentava que o próprio grupo situacionista havia tramado o incidente para criar um ambiente propício à reeleição. Entretanto, nenhuma dessas versões pôde ser corroborada por evidências concretas.


Nesse ínterim, o trágico assassinato do radialista Ivan Rocha e o alarmante episódio da explosão da emissora de rádio no centro da cidade foram elementos que macularam a corrida pelo poder local disputado pelo sobrinho do prefeito, Ubaldino Pinto Junior e o ex-prefeito Temóteo A. de Brito, que transformou a principal avenida da cidade em palco de passeatas e comícios.


O clima político na cidade em 1992 era de uma divisão intensa, uma polarização acentuada pela proximidade da disputa nas eleições municipais. Assim, com apenas sete anos de independência, Teixeira de Freitas testemunhou uma das eleições mais aguerridas de sua história recente.


Nesse contexto eleitoral fervilhante, meses depois,  o embate político adquiriu contornos de violência. O evento traumático que veio a ocorrer teve o mérito de evidenciar a natureza intrínseca à competição política. Os diversos agrupamentos, impulsionados pela vontade de adquirir o controle municipal, não hesitaram em recorrer a métodos drásticos que marcaram negativamente a história política da cidade.  


Fontes:

ANCHIETA, José. "Atentado com bomba tira do ar emissoras de rádio e televisão." A Tarde. 22 de julho de 1992.  Acervo site tirabanha.

Bomba destrói emissora no sul da Bahia. JB. 22 de julho de 1992. Acervo site tirabanha.


Entrevista:  Ramiro Guedes, Abril de  2018. 


Foto: Teixeira 1992. Tirabanha


Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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