História de Teixeira de Freitas - Pesca no Rio Itanhém

 



Por Daniel Rocha

Na década de 1950, às margens do rio Itanhém, numa região que compreendia a zona rural de Alcobaça e parte do atual território de Teixeira de Freitas, várias famílias encontravam seu sustento através da pesca artesanal e tradicional.

Nessa parte da Bahia, a população da época concentrava-se majoritariamente nas áreas rurais em vez das cidades. Por isso, para compreender esse período predominantemente rural da região, é essencial considerar as observações de  alguns autores que escreveram sobre a região e período e a fala de alguns antigos moradores.

Padre José Koopmans, por exemplo, afirma em seu livro “ Muito Além do Eucalipto” que até meados do século XX, o extremo sul representava um lugar onde homens livres habitavam terras abertas, desfrutando de condições de vida dignas. Que as comunidades viventes e de pequenos produtores, posseiros e camponeses dependiam da produção da agricultura familiar  para seu sustento.

Sobre esse período, Walfrido Corrêa,  relatou em uma entrevista em 2013, que passou toda sua vida na Fazenda Nova América ,”desde 1923”,  e afirmou que no período, tal como afirma Koopmans, os habitantes, além do cultivo de diversas culturas, para subsistência, criavam galinhas, porcos que eram amplamente consumidos pelos moradores da fazenda e comunidades próximas.

Ainda conforme o antigo morador,  a pesca constitui uma prática constante entre os moradores daquela parte das antigas delimitações do município de Alcobaça, onde hoje se localiza Teixeira de Freitas, que na época deslocavam-se de grandes distâncias através de mulas e cavalos e canoas para pescar na parte do rio que cortava a fazenda, hoje conhecida como “Prainha”.

Com base na fala do antigo morador, é possível afirmar que  os peixes eram um componente fundamental na dieta das comunidades rurais ribeirinhas da época, que compreendia as décadas de 1940, 1950 e 1960. 

Por força dessa cultura alimentar, na Fazenda Nova América, a captura de peixes no rio Itanhém ocorria de forma contínua e sem restrições durante todo tempo, contudo, nos meses de setembro e outubro, a pesca sofria uma mudança significativa: era o período da “Primeira Piracema”,  que era apelidada pelos moradores locais de "Repiquete".

Em entrevista ao site em 2013, Ivanildo Ivo do Nascimento, natural da Fazenda Nova América,  que na época da entrevista contava com 75 anos, relembra com saudosismo que até a década de 1960 o período da piracema era celebrado por todos como um momento de grande abundância de peixes. 

Por essa razão, tanto os habitantes da fazenda quanto os vizinhos se dirigiam ao local para pescar durante dias a fartura, como os moradores matas e povoados próximos, como Santo Antônio, Lavra, Pixixica e Fazenda Cascata,que se uniam para uma pesca coletiva que durava dois dias. “Cerca de 50 a 100 pessoas participavam dessa atividade ao longo de três meses intercalados”.

Ainda conforme levantamento realizado pelo colaborador Domingos de Freitas Correia, em 2014, de fato, a pescaria coletiva tinha seu início marcado pelo primeiro "repiquete" no Rio Itanhém, durante os meses de setembro e outubro, meses que eram conhecidos como a estação das águas. 

E seguia até o segundo repiquete que ocorria durante as cheias de dezembro, incluindo o período de Natal, até o último em março e abril, onde peixes como “crumatã”, piau e piabinha, podiam ser facilmente pescados.

Já no mês de maio, por sua vez, as capturas incluíam peixes como judeu, mandi e sabanga pequeno. A quantidade de peixes era tão grande que parte deles era salgada e seca ao sol para ser conservada ao longo do ano. Já os peixes frescos eram armazenados em palha de bananeira para consumo nas primeiras semanas.

Ainda conforme levantamento feito pelo colaborador, em 2014, todas as partes dos peixes eram aproveitadas. A ova, conhecida como "caviar", era salgada ou torrada e guardada em latas. Para alimentação, era moída no pilão e transformada em moqueca. Um procedimento semelhante ocorria com o peixe Mandi, que era seco em fornos ou ao sol, sendo posteriormente consumido durante a colheita do café, misturado com dendê e farinha de mandioca.

Dessa forma, a atividade de pesca às margens do Rio Itanhém era uma parte vital da vida dessas comunidades rurais. As famílias que habitavam a região encontravam no rio uma fonte constante de sustento e nutrição. Os ciclos de pesca, como a piracema, não apenas proporcionavam alimento abundante, mas também representavam momentos de celebração e união entre os moradores locais.

FONTES:

KOOPMANS. Padre José. Além do Eucalipto: O papel do Extremo Sul. 2005.

SANTOS. Milton . O papel metropolitano da cidade de Salvador. Revista Brasileira dos municípios.Junho/Dezembro – 1956.

Entrevista feita  por Domingos Cajueiro Correia, com Ivanildo Ivo do Nascimento em outubro de 2013.

Entrevista com Valfrido Correa em outubro de 2013.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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