História de Medeiros Neto - Bahia: Um acidente com vítimas fatais





Por Daniel Rocha

Na década de 1970, o extremo sul da Bahia testemunhava a abertura de novas estradas que ligou suas principais cidades e povoados. Essas vias movimentadas intensificaram o tráfego de variados meios de transporte, incluindo ônibus e caminhões frequentemente usados para levar trabalhadores. Nesse contexto, acidentes se tornaram rotineiros com alguns alcançando proporções assustadoras, em termos de tragédias. 


Um exemplo ocorreu em 19 de Abril de 1970, às 18h, quando um caminhão Chevrolet amarelo ipê de 1968, com placa da cidade de Livramento, Bahia, dirigido pelo proprietário Pereira Santos, de 23 anos, proveniente de Teixeira de Freitas, com 26 passageiros, capotou abruptamente em Medeiros Neto ferindo e levando a morte alguns moradores do então povoado teixeirense.


Isso é o que relatou um dos ocupantes da cabine do caminhão, ouvido pelo jornal, que  informou que o carro que transportava trabalhadores estava com defeito nos freios e ganhou velocidade  quando se aproximou de um declive na cidade conhecida por suas vias íngremes e , na época, perigosas.


Ainda conforme o relato, ao tentar engrenar uma marcha forte, o motorista do caminhão não teve sucesso Diante disso um ocupante sugeriu que ele subisse uma rua em direção a um Campo de Futebol. No entanto, o veículo projetou-se em uma vala e todos os passageiros que viajavam na carroceria foram lançados para fora com  extrema violência.


Segundo o jornal, o motorista fugiu, enquanto os feridos receberam auxílio de populares até a chegada de alguma assistência. Os relatos apurados pelos jornais da época, mencionam que os feridos contaram apenas com a atenção de enfermeiros e auxiliares, pois  o médico da Casa de Saúde São Jorge, um dos poucos hospitais na região, estava ausente naquele dia.


Por isso coube às Enfermeiras, enfermeiros e pessoas amigas prestarem ajuda aos feridos. Dois passageiros perderam a vida, e mais de 20 sofreram ferimentos leves. Apesar dos esforços dos prestativos enfermeiros, a falta de recursos adequados  e as dificuldades  impossibilitaram melhores tratamentos dos acidentados.


Conforme documentos da época, o hospital inaugurado em 1967, contava com 25 leitos, sala de operação, uma sala de raio X, curativos, 02 consultórios, laboratórios e outras dependências. Apesar dessa falta de estrutura e carências médicas, a cidade era uma das mais desenvolvidas dessa parte da região do extremo sul baiano, tido como a terra do progresso.


A análise das informações revelam também uma flagrante ausência de responsabilização por parte dos detentores do poder e dos executantes dessas práticas de transporte que era bem comum  no período onde investimento em mobilidade era apenas abertura de estradas para passagem de carros.


Esse fato sugere a existência de uma recorrente padronização desse modus operandi no período, possivelmente endossada por setores comerciais que colhiam benefícios substanciais com essa dinâmica, já que não é novidade para ninguém que os passageiros eram trabalhadores comuns das atividades vigentes na época.


Esta conjuntura aponta também para um cenário de exploração e subjugação no extremo sul baiano, onde havia um proveito do sofrimento das massas trabalhadoras em prol dos interesses econômicos que se renova com o discurso desenvolvimentista nacional a fim de favorecer o capital financeiro e não humano.


Por fim, o relato do acidente traz informações sobre como o aumento do trânsito e a falta de fiscalização dos tipos e meios de transporte aliado a infraestrutura precária causou mortes e acidentes em uma época tida como de pleno progresso regional e nacional que tinha como referência a abertura de estradas, como a BR-101 e as vias estaduais, BA-290.  Denotando, como já dito em outros textos neste site,  uma clara dicotomia entre a narrativa propagandística e a realidade enfrentada pelas camadas populares durante a Ditadura Militar.



Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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