História de Teixeira de Freitas 1990 : Urbanização, perdas e morte

 



Por Daniel Rocha

Uma onda migratória impulsionada pela atividade das empresas de eucalipto na região causou um crescimento rápido e desorganizado de Teixeira de Freitas, uma cidade despreparada para lidar com o aumento populacional. Em resposta, novos projetos de urbanização foram implementados para redesenhar as ruas e praças do centro da cidade, mas sua execução causou perdas, danos e ao menos uma morte.

No início dos anos 1990, com o apoio da empresa Bahia Sul Celulose, um mapeamento aéreo foi conduzido e permitiu a definição da área urbana da cidade, tal como sua extensão e divisões, a fim de, dessa forma, iniciar uma série de ações, por parte do município, de urbanização. 

Como era urgente, devido ao inchaço populacional provocado pela chegada da empresa de celulose na região, as principais avenidas  do centro da cidade passaram por melhorias, incluindo asfaltamento, embelezamento das vias adjacentes, instalação de canteiros e semáforos. 

Essas mudanças foram lideradas por três prefeitos consecutivos: Francistônio Pinto, Temóteo Brito e Wagner Mendonça, que reforçaram a mentalidade local, formulada na abertura da BR-101, de que o puro asfaltamento é sinônimo de desenvolvimento, sem a inclusão do desenvolvimento de áreas prioritárias como saúde e educação, mesmo assim, bem recebido pela população.

Em contraste com a visão otimista sobre o progresso evidenciada pelo início das obras de pavimentação e saneamento nas décadas de 1990 e 2000, é possível perceber uma perspectiva mais crítica ao observar os impactos negativos resultantes desse desenvolvimento. Pois, o processo de urbanização também foi marcado por alguns fatos e acontecimentos negativos, como as intervenções que afetaram alguns comércios  e a morte de uma transeunte.

A primeira  perda significativa foi sentida por moradores e comerciantes, quando foi realizado o nivelamento  de parte da avenida Presidente Getúlio Vargas, no centro da cidade, estima-se, entre 1995 e 1996.

Devido ao fato, houve a colocação de várias lojas comerciais em um nível abaixo da avenida, causando perturbações em seu fluxo de clientes e exigindo investimentos adicionais por parte dos proprietários e causando o fechamento de algumas lojas.

Aqueles que não tiveram meios para realizar esses investimentos se contentaram com as escadas de acesso que foram construídas pela administração pública para amenizar o impacto do progresso, na época muito associado a esse tipo de obra. No presente, ainda é possível visualizá-las na entrada de alguns desses endereços no centro.

Importa lembrar que no início desse processo a Bahia Sul esteve fortemente influenciando o poder público para moldar a cidade conforme seus interesses, ou seja, facultar condições para seus empregados e automóveis no centro em detrimento dos moradores dos bairros mais distantes, verdadeiras favelas. 

Seguindo com os destaques, as obras de pavimentação e  saneamento geraram grande movimento no centro e chegaram a registrar um sinistro em Julho de 1996.   Durante as obras na avenida Presidente Getúlio Vargas, na altura do bairro Recanto do Lago, um ponto de ônibus de concreto desabou sobre uma transeunte que aguardava o coletivo. 

Um caminhão caçamba que despejava areia ao lado do ponto de ônibus, para o calçamento das vias laterais, tocou a base de concreto da estrutura que desabou fazendo a vítima que havia acabado de sair de uma consulta médica no hospital Sobrasa. O fato chocou a cidade e atraiu a atenção de diversos curiosos no local.

Contudo, apesar do trágico acontecimento com a senhora, não houve interrompimento das obras que também gerou outros transtornos e manifestações orais sobre a necessidade do progresso urbano, mesmo que doa, e melhores medidas de segurança por parte da empresa executora. 

Outro evento significativo nesse processo que se mostrou  negativo para a atividade econômica de alguns comerciantes, foi a remoção dos trailers de lanches que eram uma característica marcante ao longo da avenida e praças.

Na segunda fase do processo, nos anos 2000, Governo Wagner Mendonça, a prefeitura, seguindo as diretrizes do recém implantado plano diretor urbano, exigiu que esses estabelecimentos populares, como  o Pilequinho e o Gauchão, dentre outros, fossem realocados para áreas internas. 

Isso marcou o fim de uma tradição de lazer e deixou muitas famílias e trabalhadores do setor em situações difíceis para que a adequação da cidade ao seu tamanho e demandas urbanas fossem consolidadas.

Por fim, em tese, a necessária urbanização do centro da cidade que moldou a cidade  nas décadas de 1990 e 2000, para as décadas seguintes, trouxe além de melhorias, perdas e danos e, provavelmente, lucro para alguns setores e prejuízos para alguns trabalhadores comuns. No presente, obras do tipo, ainda são vistas como parâmetros de desenvolvimento e não necessárias para construção de uma cidade mais inclusiva e sustentável.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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Fontes:

MENSITIERI, Carlos. A recente História de Teixeira de Freitas: Um depoimento! Perse. São Paulo, 2019.

KOOPMANS. Padre JoséAlém do Eucalipto: O papel do Extremo Sul. 2005.

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