História de Ibirapuã - O ataque do "chupa-cabra"

 




Por Daniel Rocha

Em agosto de 1997, uma onda de ataques a animais domésticos por um predador misterioso “alienígena”, conhecido como “chupa-cabras”, assustou o Brasil depois que um popular programa de TV e até telejornais veicularam notícias sobre a ocorrência do fenômeno. No sudeste do país, os relatos eram especialmente frequentes, e em Ibirapuã,  no extremo sul da Bahia, a população ficou apavorada com a morte  suspeita de seis cabras na Fazenda Soledade.

Na fazenda, os animais foram encontrados mortos, sem uma gota de sangue e com pequenas incisões no pescoço, como se tivessem sido feitas por presas. A suspeita imediata foi de que o chupa-cabras havia chegado à cidade. A notícia se espalhou rapidamente e causou grande comoção. As pessoas começaram a temer pela segurança de seus animais, e até mesmo de suas próprias vidas.

Diante do falatório, o delegado da polícia local, Paulo Cruz, foi chamado para investigar o caso. Ao chegar à fazenda, ele constatou que as cabras estavam próximas umas das outras e, de fato, sem nenhuma gota de sangue ou ferida que demonstrasse ataque de um animal carnívoro.

Contudo, o que mais chamou a atenção do delegado foi a ausência de rastros de predadores ou  do predador temido. Diante disso, ele determinou que fossem feitas fotos dos animais para anexá-las ao inquérito policial. Porém, apesar da suspeita popular, veterinários  das cidades vizinhas ouvidos pelo delegado atribuíram a hipótese de ataque de morcegos hematófagos, que existem em abundância na região.

Os morcegos hematófagos, também conhecidos como vampiros, são uma espécie de morcego que se alimenta de sangue. Eles possuem presas afiadas que permitem que perfuram a pele das vítimas e sugam seu sangue e podem ser encontrados facilmente, segundo a reportagem do jornal A tarde, em cidades da fronteiras, como Ibirapuã, Lajedão, Serra dos Aimorés (MG).

Ainda segundo os veterinários, as incisões encontradas no pescoço das cabras eram características de ataques de morcegos hematófagos. Além disso, a ausência de rastros de predadores também era um indicativo de que o ataque poderia ter sido feito por morcegos, que voam e não deixam rastros no solo. A conclusão dos veterinários, provavelmente  foi aceita pelo delegado ao  encerrar o inquérito policial sobre as mortes das cabras.  

Importa lembrar que na época, a TV era o principal meio de comunicação do país, e os programas de auditório, como o Domingo Legal, exibido pelo SBT, apresentado por Gugu Liberato, eram populares e a internet começava a ganhar força no país e viralizou a lenda  de origem latina que surgiu em 1995 em Porto Rico e se espalhou para todo o continente.

O programa Domingo Legal vinha explorando o caso e dedicou uma edição especial ao chupa-cabras no período de junho e julho de 1997, mostrando ao vivo uma suposta cabeça do ser misterioso colhida por um trabalhador do campo, levando a interpretações equivocadas de fatos reais em todo país.

No caso de Ibirapuã, é provável que as mortes das cabras tenham sido causadas por morcegos hematófagos. No entanto, a exposição de casos semelhantes na TV levou a população a acreditar que o chupa-cabras era real, o que, em alguns casos, contribuiu para aumentar a sensação de insegurança e medo, já existentes por motivos socioeconômicos e a exploração injusta da força de trabalho local, já que no mesmo período uma greve foi organizado pelos trabalhadores da cana na região.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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