Por Daniel Rocha*
No século 19, mais precisamente na década de 1840, a região do extremo sul da Bahia era marcada pelo comércio e o cultivo da mandioca, uma atividade vital que impulsionava a economia local e definia o cotidiano das comunidades ao longo do litoral e dos sertões que começavam a ser ocupados por colônias e aberturas de novas vias de acesso e estradas.
Embora as informações sobre esse período e práticas comerciais muitas vezes tenham sido vagas, um relato feito pelo pesquisador John MacGregor em , renomado estatístico e político escocês, publicado em 1846, nos proporciona uma visão única da dinâmica comercial e estrutural da região nesse período. Mas o que não foi citado pelo estatístico esconcês sobre a região no período?
Isso porque em sua obra “The Progress of America From the Discovery by Columbus to the Year 1846”, MacGregor descreveu meticulosamente a geografia e as atividades comerciais das cidades e vilas ao longo da costa, como a então vila de Alcobaça, Prado, Mucuri e Nova Viçosa e Caravelas, essa última situada às margens do rio de mesmo nome, “cerca de oito quilômetros distante do mar e dezesseis quilômetros ao norte do rio Peruípe”.
Segundo o autor, Caravelas era um centro pulsante de comércio, onde a farinha de mandioca desempenhou um papel central. “As ruas retas da cidade, cruzando-se em ângulos perfeitos”, que testemunhava a atividade frenética de pequenas embarcações vindas de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e outros portos da costa leste.
Nestes traços e movimentos, observa o autor, “a igreja se erguia em um espaço aberto próximo à Casa da Câmara, simbolizando a influência da religião e da governança no tecido social da comunidade”.
Conforme a obra do estatístico, a riqueza da região não residia apenas em suas águas costeiras, mas também em suas florestas e fazendas circundantes. As margens do rio eram adornadas por manguezais, cujo “vark” (provavelmente referindo-se ao tanino extraído das cascas) era utilizado no curtimento de couro.
Além das observações a cerca de Caravelas, destaca também, o perfil das outras vilas da região que também contribuía para a próspera rede de comércio da mandioca no hoje extremo sul baiano, a então Vila de Alcobaça. “Na margem norte do rio Itanhém, erguia-se a Vila Alcobaça, onde também se realizava o comércio deste importante produto agrícola.”
Ainda conforme a obra, a exploração econômica estendia-se ao longo dos rios da região, como o Rio do Prado, onde a vila de mesmo era também um ponto de comércio costeiro para o escoamento da farinha. “Inicialmente um assentamento indígena, o Prado logo se tornou um centro comercial ativo”, negociando não apenas farinha de mandioca, mas também outros produtos como a madeira nobre em abundância.”
A obra do estatistico também relata a presença de diferentes grupos étnicos – desde os índios Patachos e Machacalis, negros e até os “ chineses trazidos ao Brasil pelo Conde de Linhares” em Alcobaça, o que ilustra a diversidade e a complexidade da sociedade local no extremo sul da época, bem mais diversa do que se podemos imaginar hoje. (Continua no próximo texto)
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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