Por Daniel Rocha
Em 1997, Teixeira de Freitas -BA, vivia o ritmo despretensioso de uma cidade em construção. Nas proximidades da avenida São Paulo, um trecho de terra batida ao lado do Posto Dois Irmãos emergiu como palco improvável para uma paixão coletiva: o motocross. Não havia infraestrutura, arquibancadas ou iluminação de evento esportivo, mas isso não impediu que o lugar se tornasse um símbolo de adrenalina, habilidade e sonhos compartilhados.
Relatos e registros da época mostram que aquele espaço era muito mais do que uma simples pista de treinamento para os praticantes de motocross. Tornou-se um verdadeiro ponto de encontro para moradores de toda a cidade, apaixonados ou admiradores do esporte, que já tinha seus ídolos bem conhecidos.
Entre eles, destacava-se Marcão, uma figura central que simbolizava a força e o espírito do motocross local, ao lado de nomes como Sandro Ferreguett, Zinho, Gil , da Farmácia Socorro, e muitos outros. Nos momentos de folga, eles se reuniam ali, desafiando os limites do terreno irregular e transformando cada salto em um espetáculo que inspirou toda uma geração de jovens.
Crianças, adolescentes e até adultos se aglomeravam nos finais de tarde, seja aos domingos ou durante a semana, atraídos pelo ronco das motos e pelo encanto das manobras, enquanto sonhavam com suas próprias aventuras sobre duas rodas motorizadas.
Naquele espaço, o motocross não era apenas um esporte; era um verdadeiro ritual de admiração. Entre as risadas dos espectadores e o cheiro de combustível que pairava no ar, nasciam sonhos de liberdade e coragem. Muitos jovens, mesmo sem bicicletas próprias, encontravam inspiração ao ver a vibração ao redor, permitindo-se imaginar um futuro onde os limites deixavam de existir. Os que tinham, aproveitavam o fim das apresentações para percorer a pista com suas bikes.
Com o tempo, a prática do Motocross na pista próxima à avenida evoluiu e ganhou por um momento maior organização. Em 2005, o mesmo local que serviu de cenário para os treinos de Marcão e outros pioneiros tornou-se palco de um evento de grande magnitude: o Supercross de Teixeira de Freitas.
A competição trouxe à cidade pilotos de renome, como Roger Hoffmann, campeão da categoria 125 no campeonato capixaba, e Júlio César, conhecido como a “Lenda do Nordeste”. Sob o olhar atento de uma multidão entusiasmada, Hoffmann brilhou, conquistando o título e inscrevendo seu nome em um capítulo memorável da história do motocross local.
Por fim, este relato evidencia como o motocross e outros esportes de menor visibilidade contribuíram para moldar a cultura e os espaços urbanos de Teixeira de Freitas. Mesmo sem apoio institucional, o motocross encontrou terreno fértil em locais improvisados, que se transformaram em pontos de convivência e resistência cultural.
Hoje, a “pista do Posto Dois Irmãos”, embora desativada e gradualmente substituída por empreendimentos imobiliários, permanece viva na memória daqueles que testemunharam seus dias de glória e, talvez, encontraram nela inspiração para suas próprias jornadas.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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