Por Daniel Rocha
Em 2002, a Prefeitura de Teixeira de Freitas, sob a gestão do prefeito Wagner Mendonça, deu início a uma importante ação para democratizar o acesso à educação superior na cidade. Atendendo a uma demanda popular, a Secretaria de Educação criou o cursinho pré-vestibular municipal “Desafio”, destinado a estudantes de escolas públicas que buscavam uma oportunidade de ingresso na universidade e transformação de suas histórias de vida.
Naquele período, o Brasil enfrentava altos índices de desemprego juvenil, e o acesso ao ensino superior era restrito, principalmente em cidades do interior. Em Teixeira de Freitas -Ba, as opções acadêmicas se limitavam à Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e a algumas instituições privadas emergentes, como a FACTEF e o IFA, que começavam a ampliar sua oferta de cursos.
Entretanto, para muitos, os cursinhos pré-vestibulares particulares eram financeiramente inacessíveis, e o Funil, único público, de iniciativa da UNEB-X, tinha vagas insuficientes para atender à grande demanda de trabalhadores jovens.
Foi nesse cenário que o “Desafio” surgiu como uma alternativa inclusiva. Instalado no prédio da antiga Cesta do Povo, onde hoje funciona a escola Vila Vargas, o cursinho rapidamente conquistou a comunidade.
Com aulas semanais noturnas organizadas por disciplinas como português, história, inglês e espanhol, o projeto atraiu dezenas de jovens em busca de uma vaga na UNEB ou, mais tarde, nas universidades privadas, especialmente após a criação do PROUNI em 2004, pelo governo federal que passou a oferta bolsas de estudos em instituições privadas.
Entre os muitos estudantes que passaram pelo “Desafio”, Lide Anunciação, em um relato feito ao site em 2014, relembrou com saudade os dias vividos no cursinho municipal. Para ela, além do aprendizado, o local proporcionava momentos de interação e diversão inesquecíveis.
“Nos intervalos e nos grupos de estudo, conhecíamos pessoas incríveis. Às vezes, a volta para casa virava um passeio pelo centro da cidade, especialmente quando não havia aula”, recordou.
A ex-aluna também fez questão de destacar os professores que marcaram sua trajetória, como “Nayssi”, o alemão com sotaque carregado que dominava o inglês; Gilberto, com seu espanhol impecável; Elias, o gênio da química; Carlas, com textos afiados; e Paulo, que fazia da história uma verdadeira aventura assuntos recorrentes no intervalos no grande pátio fechado do lugar.
Ela ainda lembrou dos esforços coletivos dos alunos, que formavam grupos de estudo nas casas dos colegas e até tentaram, sem sucesso, convencer a prefeitura em 2003 a fornecer um ônibus para que pudessem prestar vestibular na UESC, em Ilhéus, a ideia não vingou, mas ninguém esqueceu a união daquele movimento.
Ainda sobre, recordou que a rotina da juventude naquela época era embalada pelas músicas de sucesso, como o hit “Só sei que te amo demais”, do cantor Leonardo e que em junho de 2003, Leonardo fez um show memorável no espaço Suco de Pimenta, uma divertida que ainda permanece viva na memória de Lede e de muitos outros jovens daquela geração.
O “Desafio” foi mais que um cursinho. Foi um movimento, um símbolo de esperança em um tempo de poucas oportunidades. Para quem concluía o ensino médio e não via muitas portas abertas, ele se tornou uma janela iluminada. Teixeira de Freitas, naquela época, não tinha grandes estruturas, mas teve, por um breve momento, a força de um projeto que mudou vidas. E, no fim das contas, é disso que se faz a história: de pequenas revoluções no dia a dia que deixam marcas profundas.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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