Por Daniel Rocha
No dia 10 de novembro de 2009, Teixeira de Freitas vivenciou um episódio singular em sua história recente: a realização da Caminhada da Paz, evento que mobilizou cerca de 4.000 pessoas. Vestidos de branco os participantes percorreram as principais vias da cidade, partindo da Praça Sete de Setembro (atual Padre Apparecido) e encerrando-se na Praça da Bíblia.
A caminhada, inicialmente concebida como uma atividade pedagógica pela Escola Instituto Francisco de Assis, transcendeu os limites escolares ao integrar instituições públicas e privadas, sindicatos, e a sociedade civil organizada. O evento ecoava um desejo coletivo por alternativas à escalada de homicídios que colocavam Teixeira de Freitas entre os municípios mais violentos do país e otras formas de violência, como a do trânsito.
Esse pedido, no entanto, não emergiu isolado. A cidade registrava, em 2009, uma taxa de 101 homicídios por 100 mil habitantes, superior à média nacional e indicativa de uma crise estrutural. Em 2010, esse número cresceria para 121, confirmando a incapacidade das políticas públicas de segurança em responder aos desafios impostos pela criminalidade desde sua formação histórica.
Na década de 1970, reportagens de alcance nacional, como as publicadas pelo jornal O Estado de São Paulo, descreveram o extremo sul baiano como uma “terra sem lei”, permeada por pistolagens e disputas associadas ao tráfico de drogas e à exploração de recursos naturais.
Os anos 1980 e 1990 trouxeram novos capítulos de violência que ultrapassaram as fronteiras locais, como o assassinato do radialista Ivan Rocha, cujas repercussões alcançaram fóruns nacionais e internacionais. A impunidade que marcava esses casos era frequentemente apontada como fator de deslegitimação das instituições estatais e de fortalecimento da cultura de violência.
No final da década de 2000, a violência na região atingia patamares alarmantes, como por exemplo uma série de crimes interligados que começou como o assasinato do ex-deputado estadual Maurício Cotrim Guimarães, em 2007 e 2008.
Diante desse histórico, a Caminhada da Paz de 2009 inseriu-se em uma tradição de mobilizações populares em Teixeira de Freitas, que já havia testemunhado movimentos significativos, como os protestos de 1999 contra a construção de um presídio de segurança máxima na cidade.
Embora o evento de 2009 não tenha revertido de imediato os índices de violência, ele marcou um momento de convergência entre diferentes atores sociais. Com o apoio da Polícia Militar, da Prefeitura, de instituições de ensino superior e de associações locais, a Caminhada da Paz destacou-se como um esforço coletivo de resistência por uma cultura de paz ainda não alcançada, mas sonhada a cada novo ano que se inicia.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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