📍 Alcobaça 1883 – Os rumores das moedas falsas
Por Daniel Rocha
Lá pelo final do século XIX, Alcobaça - Bahia, era uma vila até que bem movimentada para os padrões da época. Com cerca de dois mil moradores espalhados por pouco mais de trezentas casinhas, o lugar vivia basicamente da exportação de farinha de mandioca e madeira.
Mas, como acontece em qualquer cidade pequena, o povo adorava um bom falatório. E foi justamente um desses mexericos que causou um rebuliço daqueles em dezembro de 1883.
A confusão começou quando um comerciante local,Climério de Castro Henrique, indignado da vida, resolveu escrever uma carta para a Gazeta da Bahia, um jornal de Salvador. Na carta, ele se defendia com unhas e dentes da acusação de que ele e o irmão, Manoel de Castro Henrique estariam metidos com moeda falsa.
Segundo ele, tudo não passava de fofoca de gente invejosa e de mau caráter, querendo sujar o nome da família.O comerciante explicou que já morava em Alcobaça fazia onze anos, enquanto o irmão, há oito, vivia na Vila do Prado, ali perto.
Os dois trabalhavam no comércio e tinham boa reputação. Ele ainda desafiou qualquer um a provar que eles haviam passado dinheiro falso, alegando que as acusações vinham de pessoas que não tinham o que fazer e só queriam ver o circo pegar fogo.
E essa não era a primeira vez que o irmão dele passava por isso. Um tempo antes, ele já tinha sido acusado do mesmo crime, mas levou o caso à justiça da época e saiu inocente. O acusador, por sua vez, acabou condenado.
Mas, num gesto de generosidade, o comerciante resolveu perdoar o sujeito depois de receber uma carta de retratação. Só que, em vez de acabar com as fofocas, parece que isso só deu mais corda para os faladores.
Dessa vez, o comerciante não quis saber de conversa fiada. Na carta ao jornal, ele desafiou os acusadores a provarem o que diziam e prometeu levar todo mundo à justiça. Pediu ainda que as autoridades investigassem a situação e mostrou que não tinha nada a esconder. "A luz não nos incomoda", disse ele, confiante de que a verdade iria aparecer e expor os fofoqueiros.
Esse caso mostra bem que, apesar de pequena, Alcobaça era cheia de intrigas. Naquele tempo, a honra de um homem valia muito, e qualquer mancha na reputação podia trazer um problemão.
Por isso, quem era acusado de alguma coisa fazia de tudo para limpar seu nome. Esse comerciante, por exemplo, não ficou calado: usou a imprensa e a justiça para provar que ele e o irmão eram trabalhadores honestos.
No fim das contas, a história das moedas falsas escancarou algo que toda cidade do interior conhece bem: por trás da calmaria, sempre tem muita disputa, inveja e gente querendo derrubar os outros. Mas também mostrou que, seja qual for a época, lutar por justiça e defender a própria honra sempre foi coisa séria.
Comentários