⏰ De repente, pensei nisso
Por Daniel Rocha
Outro dia, enquanto olhava para a fatura do meu cartão de crédito com a mesma expressão de quem observa um meteorito vindo em direção à Terra, percebi que a vida privada é uma grande luta contra o saldo bancário. Todo mundo tem um leão para domar por dia, mas, ironicamente, não são os banqueiros que precisam andar com um chicote na mão.
A regra é clara: a conta bancária precisa ser mais bonita que a vida. Não importa se você está almoçando miojo gourmet (que é quando você joga um queijo ralado por cima e finge que é um prato da alta gastronomia), desde que o feed do Instagram pareça sofisticado e gere muitas curtidas para as big techs.
O problema é que essa luta inglória contra os boletos vem acompanhada de um brinde especial: a ansiedade sobre o futuro. Mas, vejamos bem, ansiedade compartilhada é ansiedade dobrada. Conversamos sobre nossos dilemas financeiros e saímos da conversa ainda mais preocupados, porém agora com os problemas alheios também.
Mas, aí, antes que a gente se dê conta, o tempo passa. A fatura vence, outra chega, a gente sobrevive, paga o que dá, parcela o que não dá e segue em frente. Quando a ansiedade aperta, vem aquela esperança secreta de que um dia as coisas vão melhorar. Talvez um aumento no salário, um trabalho menos exaustivo… e foi aí que eu percebi:
Se até o meu cartão de crédito tem limite, por que a exploração dos trabalhadores não deveria ter? Se todo mundo está lutando contra um leão por dia, talvez seja mais que na hora de juntar as jaulas e perguntar: quem é que lucra com o nosso medo de lutar por melhores condições de trabalho e salários? nossas dificuldades e ansiedades? De repente, pensei nisso.
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