Um novo ciclo para o PT em Teixeira de Freitas

 

Por Daniel Rocha

A trajetória do Partido dos Trabalhadores (PT) em Teixeira de Freitas é inseparável da própria formação política do município. Fundado em 1982, em meio à redemocratização do país, o PT-TX foi o primeiro partido de esquerda popular a lançar candidatura à prefeitura  na cidade, no primeiro pleito da cidade recém emancipada.

Em 1985, com apoio de sindicatos e movimentos sociais,  em formação, o jovem advogado Vitor Ferreira Guimarães obteve 273 votos. Embora modesto em números, esse resultado representou um ato de coragem e afirmação simbólica diante de um cenário amplamente dominado por forças conservadoras.

Desde então, o partido seguiu como uma força minoritária, porém constante, forjando sua identidade na resistência, no acúmulo militante e na presença ativa em lutas populares. 

Em 2012, após quase três décadas de atuação, o PT alcançou o ponto mais alto de sua influência local com a eleição de João Bosco Bittencourt à prefeitura, com 38.666 votos. Era o momento de virada: a esquerda finalmente chegava ao poder municipal, com a promessa de transformar a máquina pública em favor das classes trabalhadoras.

Entretanto, essa ascensão teve vida curta. Em 2016, num contexto nacional marcado pelo golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff e pela escalada do antipetismo, o PT de Teixeira de Freitas sofreu sua derrota mais simbólica ao não conseguir reeleger o prefeito, um fato inédito até então na política local.

A partir daí, o partido entrou em um impasse: seguir preso a um modelo institucional desgastado ou promover uma inflexão verdadeira que o reconectasse às suas bases e à sua origem popular.

É nesse contexto que a eleição de Rafael Oliveira, no Processo de Eleição Direta (PED), realizado no domingo, 6 de julho de 2025, adquire uma dimensão que ultrapassa a simples renovação organizativa. 

Sua vitória representa, mais do que a escolha de um novo nome, um gesto político de reposicionamento estratégico do PT local diante de seu próprio legado e dos desafios atuais da esquerda brasileira.

O processo eleitoral foi marcado por forte mobilização da militância, embates ideológicos intensos e um claro apelo por renovação. A disputa entre Rafael e o sindicalista Silvanio Alves, ligado ao grupo do ex-prefeito João Bosco, evidenciou que a urgência por mudança era um consenso entre diferentes setores do partido.

Ambos propuseram o retorno às bases, o resgate da escuta popular e a reconstrução de vínculos com os movimentos sociais. A vitória de Rafael, portanto, não anulou esse debate — ela o confirmou como central.

Sua plataforma dialoga com o movimento nacional “Muda PT”, que desde 2015 exige uma guinada à esquerda, com mais participação, transparência e protagonismo popular. É a expressão local de uma militância que não aceita a estagnação nem o distanciamento das bases sociais.

Mas Rafael não propõe apenas uma mudança de discurso. Seu projeto envolve reorganizar a atuação partidária nos territórios, fortalecer os núcleos de base, criar espaços permanentes de escuta e devolver ao PT o papel de agente transformador nos bairros, nos conselhos e nas lutas cotidianas.

Trata-se de uma proposta de reinvenção organizativa que reafirma os princípios fundadores do partido com novas práticas  e valorização da memória e a  experiência das lideranças históricas. 

Dessa forma, o que se inaugura com sua eleição é a possibilidade concreta de um novo ciclo. Um ciclo em que o PT de Teixeira de Freitas deixa de ser apenas herdeiro de um passado importante para se tornar novamente ator ativo no presente fazendo uso dessa história e experiência acumulada.

Em resumo, o PT-TX que Rafael propõe é um partido enraizado nas periferias, coerente com seus princípios, propositivo em suas ações e vivo em sua capacidade de escuta, articulação e mobilização. Um diretório atuante, que reconhece as falhas do passado, resiste aos ataques do presente e se prepara, com firmeza, para os desafios do futuro.

Por fim, a eleição de Rafael Oliveira, portanto, não encerra um processo. Inaugura um caminho. Um caminho de reconstrução, reconexão e reencantamento político. E esse caminho, como sempre demonstrou a história do PT em Teixeira de Freitas, começa pela base.



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