Você se reconheceria se passasse por você?


Por Daniel Rocha

Imagine a cena: você cruza com uma colega de trabalho na rua, fora do ambiente de sempre, sem uniforme, sem crachá, sem aquele rosto de reunião às 8h. E por um segundo… trava. Será ela? Não parece. Mas é.

Esse instante de dúvida diz mais sobre nós do que pensamos. Quando o reconhecimento depende do cenário, do figurino, do contexto, é sinal de que o conhecimento ainda é raso. Porque conhecer, de verdade, exige tempo, atenção, convivência. É como identificar um pássaro em pleno voo, só pelo jeito de bater as asas, quem conhece, reconhece mesmo de longe.

Mas e quando o desafio é reconhecer a si mesmo? O espelho pode até devolver uma imagem, mas será que ela revela o que realmente somos? O autoconhecimento é um território sem mapa. Você acha que se conhece porque lembra seu nome, seus gostos, seus defeitos preferidos. Mas, como diria Clarice Lispector, “até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso”. Vai que é justamente aquele defeito que sustenta todo o seu castelo?

Autoconhecer-se é mais do que olhar pra dentro: é aceitar o que se vê, inclusive o que se esconde. E muitas vezes, são os outros que nos mostram quem somos. Um amigo atento, um filho curioso, um comentário inocente, tudo isso vira espelho. E aí, sim, a imagem começa a ficar mais nítida. Por fim, o caminho para dentro passa, inevitavelmente, pelos outros.

Nenhum comentário:

Pesquisar este blog

Click e Veja