E se Narciso tivesse desligado o wi-fi?

 



Por Daniel Rocha

Você já parou pra pensar na história do Narciso? Aquele cara da mitologia grega que ficou hipnotizado com a própria imagem refletida na água e acabou morrendo ali mesmo, sem conseguir se desgrudar do próprio reflexo. 

Triste, né? Mas olha... o pior nem foi ele se achar bonito demais. O problema foi que ele parou de olhar para tudo o resto. O mundo podia estar caindo ao redor, mas ele só queria saber do próprio rosto brilhando na água.

Corta pra hoje: a gente trocou o lago por uma tela. A diferença é que agora não é só o próprio reflexo que fascina é a imagem que a gente fabrica, edita, melhora com filtro, posta e torce para que os outros curtam. O novo “espelho” é o celular. E tá difícil desgrudar.

A verdade é que virou moda viver pra mostrar. Tem gente que nem saboreia o almoço de domingo, mas tira foto do prato como se fosse um banquete real. Compra coisa que nem precisava, só pra fazer uma pose bonita no espelho. Trabalha igual um doido não somente para pagar as contas, mas para manter esse teatro todo funcionando. Tudo em nome do tal “desejo”.

E aí entra o velho Espinosa, aquele filósofo que disse que o ser humano não é só movido por necessidade, tipo fome ou sede. A gente deseja. Deseja o que não precisa, o que viu na internet, o que o outro tem. E esse desejo todo, que era pra nos dar vida, às vezes faz é sugar o pouco tempo que a gente tem.

O cara trabalha pra caramba pra ter o carro, o celular novo, a roupa da moda. E quando consegue… tá tão cansado que nem aproveita. Ou pior: quer logo outra coisa. E a vida de verdade? Aquela com conversa fiada na calçada, riso de filho, café coado e pão quentinho? Essa vai ficando de lado, porque não rende curtida.

É como se a gente tivesse virado o novo Narciso. Só que, em vez de morrer de sede na beira de um rio, a gente morre de pressa, de ansiedade, de vazio. Preso no próprio reflexo digital. E o mundo lá fora? Cheio de coisa linda pra ver e viver. Mas a gente nem nota.

Vai ver, Narciso só precisava de um empurrãozinho para sair de perto do lago. E a gente também. Talvez seja hora de desligar um pouco o wi-fi, sair pra dar uma volta no quarteirão, olhar nos olhos de quem tá perto. Redescobrir o que realmente vale a pena, aquilo que não precisa de filtro, só de presença.



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