Teixeira de Freitas 1997 – O Sucesso de “O Advogado do Diabo”



Por Daniel Rocha

Em 1997, Teixeira de Freitas, no Extremo Sul da Bahia, vivia um momento de efervescência cultural, política e social. Com pouco mais de uma década de emancipação política, a cidade avançava em obras, discussões públicas e na consolidação de equipamentos culturais.

Um dos símbolos desse processo era o recém-inaugurado Cine Teixeira, que se consolidava como espaço de lazer, encontro e reflexão para os moradores da região.

Foi nesse contexto que o filme O Advogado do Diabo (The Devil’s Advocate), dirigido por Taylor Hackford e protagonizado por Al Pacino e Keanu Reeves, entrou em cartaz e se tornou um dos grandes sucessos de público daquele ano na cidade.

Embora não existam registros oficiais sobre a bilheteria local, o impacto da obra é lembrado até hoje por frequentadores do cinema à época, consolidando o longa como um marco da experiência cinematográfica e memória teixeirense.

O enredo do filme gira em torno de Kevin Lomax, um jovem advogado do interior que, ao aceitar uma proposta tentadora em Nova York, passa a conviver com o poder e o luxo, enquanto sua vida pessoal e moral desmorona sob a influência de seu misterioso chefe, John Milton, uma figura que se revela como a própria encarnação do diabo.

A trama, recheada de temas como fé, ambição e corrupção, encontrou eco simbólico em uma cidade que vivia seus próprios conflitos sociais e institucionais, na luta pela sua urbanização e avanços sociais.

Registros da época revelam que no mesmo período, professores das escolas estaduais organizavam manifestações na Praça da Bíblia contra atrasos salariais, enquanto docentes e estudantes da UNEB protestavam contra propostas de uma lei que ameaçavam a autonomia universitária e a educação como um direito fundamental.

No campo das artes cênicas, a peça “O Homem e a Terra” era sucesso de público na Casa da Cultura, abordando temas como a luta pela terra, questões fundiárias e identidade regional. O teatro, mesmo com recursos limitados, mantinha-se vivo e engajado com a realidade local.

Na área da segurança pública, o 13º Batalhão da Polícia Militar recebia novas viaturas, numa tentativa de reforçar o policiamento em bairros afastados, ainda marcados pela ausência de infraestrutura. 

Cartaz do filme

Paralelamente, o então prefeito Wagner Mendonça procurava atender a cobrança  popular por soluções lançando o programa “Prefeitura no Seu Bairro”, aproximando o poder público da população e promovendo debates sobre temas sensíveis, como o esgotamento sanitário e os desafios urbanos de uma cidade em rápida expansão.

Dessa forma,  estima-se que enquanto o “diabo” ganhava vida nas telas, Teixeira de Freitas encarava seus próprios dilemas, e fazia da mobilização social e  cultural um dos caminhos para enfrentar as dificuldades sociais geradas por um passado político pouco justo e por uma cosmovisão ainda fortemente influenciada por matrizes religiosas e pela lógica maniqueísta que opõe o bem ao mal.

Por fim, mais do que um sucesso de bilheteria, O Advogado do Diabo repercutiu fortemente entre o público local no Cine Teixeira, em meio a um ano de intensos debates políticos e manifestações sociais na cidade. O filme, nesse sentido, ultrapassou sua função de entretenimento e tornou-se um artefato simbólico de um momento.

Dessa forma, marcou uma geração de teixeirenses e tornou-se símbolo de um tempo em que a cidade buscava não apenas crescer, mas se afirmar como centro regional de cultura,equitativa e plural, um lugar socialmente mais justo.

Fonte: Decupagem do noticiario Extremo sul em Manchete 1997. UNEB-X.

*Daniel Rocha – Historiador graduado e pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

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