Você se lembra dos orelhões de coco e berimbau?
Por Daniel Rocha
Na década de 1990, quando a telefonia móvel ainda era um luxo para poucos e os telefones residenciais não estavam ao alcance da maioria da população, os orelhões reinavam como principal meio de comunicação à distância.
Foi nesse cenário que a antiga estatal Telebahia lançou, em 1995, uma iniciativa ousada, criativa e culturalmente marcante: a instalação na capital baiana, Salvador, de orelhões em formatos inspirados na cultura local, os chamados telecocos e teleberimbaus.
Projetados pelo artista plástico Bel Borba, os aparelhos foram confeccionados com resina, fibra de vidro e ferro, moldados como enormes cocos e berimbaus.
Coloridos em verde, vermelho e amarelo ,cores que remetem às festas populares da Bahia , os orelhões foram instalados em pontos estratégicos da capital, especialmente em áreas turísticas, e logo se tornaram uma atração à parte, unindo funcionalidade e arte em um só equipamento.
Não demorou para que outras cidades da Bahia, como Porto Seguro, Ilhéus e Morro de São Paulo, também recebessem essas verdadeiras esculturas comunicacionais, como parte do Projeto Verão Telebahia 95.
A proposta, além de embelezar o espaço urbano, funcionava como uma forma de identidade visual do estado, promovendo uma experiência estética e turística singular. Os aparelhos atraíam olhares e cliques de turistas, tornando-se tema de reportagens nacionais e exemplo de como a infraestrutura urbana podia dialogar com a cultura local.
Em 1997, a cidade de Teixeira de Freitas foi contemplada com os inusitados orelhões estilizados. Os telecocos e teleberimbaus foram instalados em locais de grande circulação, como a antiga Rodoviária Central (hoje chamada de Rodoviária Velha), a Praça da Bíblia, a Praça da Prefeitura e diversos trechos da Avenida Getúlio Vargas.
Rapidamente, os aparelhos tornaram-se pontos turísticos improvisados. Passageiros e visitantes tiravam fotos ao lado das peças, enquanto os moradores as adotavam como referência, nomeando-as carinhosamente de “orelhão de coco” e “orelhão de berimbau”.
O sucesso foi imediato e marcou a memória afetiva de toda uma geração. Muitos ainda guardam fotografias da época, como lembrança de quando a comunicação pública na Bahia se vestiu de cor, forma e cultura.
Com o avanço acelerado da telefonia móvel nas últimas décadas, os antigos orelhões, inclusive os modelos estilizados, foram perdendo espaço. Muitos desapareceram das ruas, foram depredados ou simplesmente removidos. Ainda assim, esses equipamentos permanecem como marcos simbólicos na trajetória das telecomunicações brasileiras.
Dessa forma, os famosos “telecoco” e “teleberimbau” não se limitaram à função de conectar pessoas. Eles reinventaram o espaço urbano, transformando postes de telefone em esculturas que dialogavam com o território, celebrando símbolos populares e valorizando a expressão artística no cotidiano.
Hoje, mais do que relíquias de um passado analógico, os orelhões estilizados são lembrados como exemplos de como a comunicação e os espaços de uso público podem ser atravessados pela criatividade popular.
Daniel Rocha – Historiador graduado e pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
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Foto: Disponível no Museu Virtual de Teixeira de Freitas.
Fonte: Jornal do Brasil.
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