Os transeuntes da antiga Estrada Cascata – Caravelas

 



Por Daniel Rocha

No final da década de 1940, uma estrada foi aberta nas ríspidas matas do sertão do Rio Itanhém, Fazenda Cascata, ligando às principais comunidades rurais daquela redondeza a Caravelas, favorecendo a circulação, o acesso de comerciantes, tropeiros e trabalhadores comuns ao porto e as estações da estrada de Ferro Bahia – Minas.  

 A estrada vicinal foi uma importante via de comércio e abastecimento das vendas e dos trabalhadores do interior de Alcobaça, fazenda Cascata, São Gonçalo, Serraria e Nova América, dentre outras, que hoje integram o território teixeirense. Ao site, moradores da época relataram a rotina dos transeuntes dessa época. 

 Antes da construção da estrada Cascata – Caravelas tropeiros e agricultores eram obrigados a enfrentar perigosas trilhas entre as matas, ou horas em canoas pelo rio Itanhém para levar os seus produtos até atravessadores dos povoados de Aparaju e Juerana,  que tinham paradas intermediárias do trem. 

 “Era um caminho muito percorrido pelo tropeiro Seu Gustavo, pai de Orlando Neves, que transportava mercadorias para Caravelas e Juerana em juntas de Bois (8 bois), na década de 30 e 40. Ele era uma figura muito presente nas comunidades rurais da época, todos o conheciam e encomendavam produtos buscados por eles em outras partes da região da fronteira,” informou o memorialista Domingos Cajueiro Correia. 

 Apontado como um dos que também indicaram o caminho para a construção da estrada, “o tropeiro Gustavo não foi o único transeunte comum” no percurso, disse Valfrido de Freitas Corrêa que bem ressaltou que a estrada facilitou o acesso ao porto de Caravelas e o trabalho de transporte e venda de farinha de mandioca, porcos vivos e abatidos que abasteciam os compradores de cidades mineiras acessíveis pela estrada do trem. 

 “Quando ainda éramos jovens íamos vender porcos em Alcobaça, Isael que era um negociador habilidoso, ia até a cidade tocando porcos por pequenas trilhas por entre as matas. Às vezes ia de canoa, o que não facilitava muito pois pelo rio também era difícil e limitado até o porto que não descia para Minas. Depois da estrada da Fazenda Cascata aberta pelo finado Quincas para Caravelas, passamos a vender a carne do porco já abatida, enrolada e amarrada em forma rolos. A carne era salgada com sal grosso socada no pilão e levada até Caravelas, onde era negociada e embarcada na Bahia- Minas para ser vendida nos armazéns de Nanuque e Teófilo Otoni.”  

Por fim, considerando os relatos, compreende-se que os transeuntes da antiga passagem informaram não apenas o uso da estrada pelos moradores da época, mas também a necessidade das comunidades de acessar rapidamente o fluido planalto litorâneo da microrregião. A estrada também permitiu a visita de pessoas de outros estados e uma socialização dos costumes e rituais religiosos locais. Assunto dos próximos textos da série. 

Fontes:

Entrevista com Walfrido de Freitas Correia. Maio de 2013. Arquivo site tirabanha.

Levantamentos e informações do memorialista e colaborador do site Domingo Cajueiro Correia.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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Foto: Uma das antigas estações da Estrada de Ferro Bahia-Minas em Caravelas. Ano desconhecido.



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