Por Daniel Rocha
Até a década de 1990, o costume de organizar passeios coletivos e preparar farofas na praia rendeu aos teixeirenses o apelido de "farofeiros". Esses passeios eram organizados por homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras, que possibilitavam aos mais pobres o acesso à praia.
Para entender mais sobre esse tipo de turismo, conversei informalmente com duas moradoras da cidade, Folha Lima e Aurenice Nunes, que guardam boas lembranças desse período.
Folha Lima, uma moradora do Bairro Jardim Europa, de 48 anos, recordou com alegria que organizou esses passeios no bairro Ulisses Guimarães na década de 1990.
Durante nossa conversa, ela explicou que a organização começava com o levantamento dos custos e a definição do destino, que poderia ser Alcobaça ou Prado. Em seguida, saía pelas ruas do bairro em busca de interessados.
Com a lista de participantes fechada, os moradores pagavam um valor combinado para alugar o carro, ônibus ou caminhão, além de comprar bebidas e frango para a farofa, detalhou.
Segundo ela, a farofa geralmente era feita com frango, mas na ausência da carne, qualquer outro tipo poderia ser utilizado. Folha recordou uma ocasião em que fez farofa com "bofe bovino".
Antes do embarque, todos os passageiros eram informados sobre o local e horário de partida, que acontecia em frente à igreja católica, onde todos deveriam estar às 5h da manhã.
Ao chegarem ao destino, os "farofeiros" armavam barracas e, em algumas ocasiões, faziam churrascos animados por pagodeiros da turma. Folha lembrou que isso aconteceu no verão de 1994 em Alcobaça.
Ela ressaltou que nunca ouviu ou se sentiu ofendida por comentários depreciativos ou preconceituosos, nem por parte dos moradores, nem dos turistas.
“Eles se juntavam ao grupo para brincar e comer farofa, chamando uns aos outros de farofeiros. Era um tempo bom de namoro e boas amizades; todo mundo era unido”, disse.
No bairro São Lourenço, a realização de passeios para Alcobaça também era comum. Aurenice Nunes, que participou de algumas excursões organizadas pelos vizinhos no final da década de 1980 e início da década de 1990, afirmou que costumavam fretar ônibus para essas viagens: “ficava mais barato.”
Assim como no Ulisses Guimarães, o grupo de passageiros era composto por rapazes e moças, trabalhadores do comércio, autônomos, estudantes e domésticas, além de famílias e moradores de outras partes da cidade que iam subindo ao longo do percurso. “Saímos cedo para voltar no final da tarde.”
Segundo os relatos das moradoras, durante os passeios acontecia de tudo um pouco: namoros na praia, pais preocupados com crianças, brigas por motivos amorosos ou causadas por bebidas, brincadeiras e sátiras envolvendo a divisão da farofa e os trajes de banho de alguns. Tudo isso acontecia sem interferências internas e sem rancores no final.
Conforme enfatizam os relatos, a farofa ainda faz parte da rotina de veraneio de alguns moradores, especialmente na virada do ano, quando o discurso consumista ligado ao turismo e o forte calor despertam o desejo de ir à praia.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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