Teixeira de Freitas na época da TeleBahia





Por Daniel Rocha

O privilégio de poder comunicar através do próprio telefone é uma conquista recente para maioria da população, já que até o final da década de 1980, os telefones fixos eram restritos a poucos e a telefonia móvel, celular, não existia.  
 
Ter um telefone fixo em casa era um luxo caro e difícil. Os interessados em ter uma linha fixa no domicílio, por exemplo, precisavam se cadastrar junto à estatal e esperar entre dois e três anos para obter a linha e pagar uma taxa mensal de aproximadamente mil reais.  
 
Por essas e outras, na década de 1970 havia no então povoado de Teixeira de Freitas somente alguns telefones a bateria restrito a alguns comerciantes e um Posto Telefônico, localizado nas imediações do Bairro Novo Horizonte, para atender a população. 
 
Em meados da década de 1980, esse cenário mudou a partir da expansão dos serviços e a instalação de telefones públicos, orelhões, de discagem direta à distância (DDD) que permitia qualquer pessoa, munida de uma “fichinha”, fazer uma ligação de três minutos.  

Na época uma propaganda da estatal foi lançada na TV com o intuito de convencer os usuários que era possível, em tal tempo, falar à vontade com quem desejasse, como é possível ver no vídeo abaixo.  
 
 



Como a demanda pelo serviço telefônico era maior do que a oferta e alguns nem sempre funcionavam satisfatoriamente, eram comuns longas filas e esperas que, suponho, alterava a calma de alguns dos usuários levando a prática do vandalismo. Para se ter uma ideia, em 1991, na cidade de Salvador, dos 1.135 dos 4.608 telefones públicos da capital eram danificados a cada mês. 
 
Para driblar essas e outras dificuldades, alguns moradores também costumavam indicar o número do telefone de um vizinho como referência para contatos, recados e informações urgentes.  
 
Apesar disso, a solidariedade também tinha seu preço, segredos se tornavam públicos e no fim do mês o custo era repassado ao emissor ou receptor da ligação. Mágoas e desentendimentos também nasciam dessa relação. 
 
Tal quais as empresas privadas são hoje, a estatal também era bastante criticada pelos serviços ofertados, mas isso não mudava em nada a postura da empresa na hora de cobrar ou negociar dívidas dos usuários e dos municípios.  
 
Prova disso é que em 1983 o então povoado de Teixeira de Freitas sofreu um apagão telefônico total devido à falta de pagamento das concessões. A TeleBahia bloqueou linhas e ligações telefônicas do povoado e de outras 38 cidades do estado por causa das dívidas em excessos.  
 
Na época, a direção da empresa estadual informou que a decisão de emudecer os telefones das cidades devedoras somente foi adotada como medida extrema depois de várias tentativas de resolver a situação através do diálogo.  
 
Segundo informações da fonte, Jornal do Brasil, a empresa só liberou as ligações depois que todos os débitos foram pagos. “Uma vez que a TeleBahia não pode prestar serviços gratuitamente, pois necessita de recursos para ampliação e manutenção dos mesmos”, expressou a empresa em nota.  
 
No entanto, para além do fato, esse relato nos ajuda entender que a precariedade de acesso aos serviços públicos básicos, como o de comunicação, evidencia que na década de 1980, à população trabalhadora vivenciava uma realidade de exclusão social ocasionada por um processo de desenvolvimento ruim e uma situação econômica precária, em um período em que ter um telefone em casa era um luxo caro e difícil. 





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