HISTÓRIAS OCULTAS NAS FOTOS ANTIGAS DE TEIXEIRA DE FREITAS – PARTE 02





Por Daniel Rocha 

Em 1984, um plebiscito marcou a emancipação política de Teixeira de Freitas, até então subordinada aos municípios de Caravelas e Alcobaça. Esse evento importante estabeleceu as bases para a posterior realização da primeira eleição municipal em 1985, onde os cidadãos escolheriam o primeiro prefeito da recém emancipada cidade. 

Nesse contexto de transformação política e social, o jornalista e fotógrafo Jeová Franklin de Queiroz chegou a Teixeira de Freitas, motivado pelo desejo de registrar a vivacidade do lugar para a revista "Teixeira de Freitas". 

Em suas edições, a revista destacou o significativo marco da inauguração da agência do Banco do Nordeste, que coincidia com a transição do povoado para cidade, refletindo a aspiração da população de deixar para trás a designação de “O segundo maior povoado do mundo” em favor da emancipação administrativa. 

Um trecho revelador da revista enfatiza: “O Banco do Nordeste do Brasil S.A (BNB) chega a Teixeira de Freitas em um momento decisivo de sua história, quando a população resolveu, em plebiscito, abrir mão do título de ‘O segundo maior povoado do mundo’ para conquistar a emancipação administrativa, inscrevendo-se entre as dez maiores cidades do Estado da Bahia”. 

A chegada do Banco do Nordeste é emblemática, pois representa não apenas um novo suporte financeiro, mas também uma narrativa de progresso que acompanhou o desejo de autonomia política da cidade.O trabalho de Queiroz, ao captar a cidade por meio de imagens e textos, suscita questionamentos sobre a perspectiva adotada durante este momento político. 

A primeira análise se concentra em uma fotografia que retrata a paisagem agrícola predominante na época e a EMARC – Escola Média de Agropecuária Regional da CEPLAC. Este estabelecimento educacional, que oferecia cursos agrotécnicos, consolidava-se como referência na região e na cidade. 

A composição da imagem, em que o prédio é fotografado de baixo para cima, enfatiza sua grandeza e a insígnia da instituição, que proclama: “Cultivar a terra é plantar o futuro das gerações.” 

A presença da palmeira, ainda em seu início de crescimento, simboliza a esperança de um futuro próspero para os alunos que a escola formava, que eram descritos como "disputados pelo mercado local."

Entretanto, a ocultação do horizonte na imagem levanta questões sobre a realidade subjacente ao que foi apresentado. Enquanto a fotografia da EMARC propõe uma narrativa de crescimento e sucesso, outra imagem publicada na mesma página da revista revela um espaço devastado, tomado por gado e atravessado por uma estrada, indicando um cenário propício ao cultivo de legumes. 

Essa dualidade visual sugere uma intenção deliberada de silenciar as dificuldades enfrentadas pela população local, omissão que se alinha ao discurso hegemônico da elite agrícola teixeirense, que emergia com a emancipação.

Portanto, ao escolher o enquadramento que privilegia a escola, o fotógrafo parece propagar uma visão que reforça a ideia de que a agricultura local estava sob o domínio de uma única instituição técnica, desconsiderando a pluralidade social e econômica do contexto. 

Essa representação, que favorece um discurso de prosperidade, serve também ao interesse de captação de recursos de instituições financeiras como o Banco do Nordeste, que buscavam investir em uma imagem de progresso associada à emancipação política de Teixeira de Freitas. 

Assim, a análise das fotografias de Queiroz não apenas revela as camadas de significados visuais, mas também aponta para a construção de narrativas que moldam a identidade e a memória coletiva da cidade em um momento de transição histórica e política.


Fonte: 

MAUAD. Ana Maria. Através da imagem: Fotografia e história interfaces. Tempo, Rio de Janeiro, vol.01,.02. p 73 – 98. 

BANCO DO NORDESTE, As origens. Teixeira de Freitas, Fortaleza – Ceará. P.05-07, janeiro 1985 Relatos orais de Domingos Cajueiro … 

Daniel Rocha da Silva* 

Historiador graduado e  Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X. Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com 

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