Por Daniel Rocha
Apresentado pelo missionário Amazias Barreto de Moraes (1930 – 2013), ex-prefeito de Alcobaça/Teixeira de Freitas (1966-1970), o programa “Cristo, a Única Esperança. O mundo em desespero,” transmitido pela Rádio Difusora ( AM) entre 1983 e final de 1990, foi responsável pela popularização dos programas religiosos na cidade alcançando os evangélicos e não evangélicos.
Segundo Flavianna M. Passos, que cresceu no bairro São Lourenço e na época não era evangélica, o programa marcou sua infância ao longo da década de oitenta. Filha de trabalhadores comuns ela ouvia todos os dias de forma involuntária porque o programa era também veiculado “na voz da cidade da praça da feira de domingo do São Lourenço” por um sistema de som que ficava em frente à Igreja Santo Evangelho do senhor Jesus Cristo, fundada e presidida pelo apresentador, “um pregador muito popular e querido no bairro”.
Conforme a antiga moradora o programa era exibido durante a semana entre 07 e 08 horas da manhã e além das mensagens de fé do missionário trazia relatos e apresentações de cantores gospel locais e informações sobre a programação de eventos da comunidade evangélica. Além desses detalhes recorda também que apesar da variedade de conteúdo do programa o que mais repercutiu era a música da abertura do programa “Galileu, interpretada e gravada pela Família Miranda em 1974” que agradava aos ouvintes.
Ainda de acordo, naquela época as pessoas do bairro viviam em volta de inúmeras dificuldades sociais e algumas mensagens de fato “fazia muito sentido para alguns ouvintes”. Daí, talvez, a identificação maior dos mesmos com o hino de abertura do programa que diz na letra “Visão para os cegos e para os cativos a libertação.” A música fazia parte da estratégia discursiva utilizada.
A mesma perspectiva foi relatada por outra antiga ouvinte e moradora do bairro Teixeirinha, Idbas Ribeiro, que na época frequentava a Igreja Batista do Calvário do bairro São Lourenço. Ela que diz ter sido uma ouvinte habitual do extinto programa recorda que a música de abertura trazia esperança e paz. Para ela havia naquela época da sua juventude muitas dificuldades, desemprego, poucas vagas nas escolas, mas que as mensagens de fé e as pregações no programa ajudavam a população ouvinte a superar com fé “a vida dura”.
Lembrou também, durante a conversa informal, que o programa fazia sucesso porque permitia a participação de pessoas de todas as congregações e “não só da igreja do apresentador”. Dos cantores locais que costumavam participar do programa lembra que o assembleiano Adilson Gigante (em memória) era o mais solicitado e pedido por todos que na cidade que curtia o programa criado e apresentado pelo Pr. Amazias Barreto de Moraes.
O programa criado idealizado por ele surgiu quando a emissora, inaugurada em 1980 , passava por dificuldades buscou superar a crise financeira vendendo espaços na grade para grupos interessados e atraiu a atenção do pregador que já sonhava em ter um programa voltado para sua comunidade, segundo contou Amadeu Ferreira, antigo diretor da emissora, em uma conversa informal em 2017.
Considerando a forte influência que o rádio exerce ainda hoje no cidadão teixeirense é possível supor que o programa que buscava levar sua doutrina e visão religiosa ao maior número de pessoas possíveis acabou contribuindo para a popularização do rádio como uma mídia das massas. Tornando-se para outros políticos um poderoso instrumento de sensibilização através do uso de músicas religiosas e mensagens motivadoras em período que antecede a emancipação da cidade que via sua área urbana expandir em meio a inúmeras desigualdades e contradições, como é possível ver na foto que ilustra o texto.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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