HISTÓRIAS OCULTAS NAS FOTOS ANTIGAS DE TEIXEIRA DE FREITAS – PARTE 03



Por Daniel Rocha

A fotografia, objeto desta análise, foi registrada em 1975, em um contexto de transformações na cidade e na região do extremo sul da Bahia, impulsionadas pela abertura de novas estradas, início da eletrificação, e a construção de hospitais e escolas. 

Com características típicas das fotografias da época, que buscavam destacar o progresso urbanístico e o crescimento do então povoado, a imagem retrata jovens estudantes do Centro Educacional Professor Rômulo Galvão (CEPROG), no bairro Monte Castelo, reunidos para empinar pipas perto do antigo portão de entrada da escola, no local onde atualmente se encontra o fórum da cidade, ao lado da Avenida Getúlio Vargas.

Relatos indicam que a atividade fotografada fazia parte das aulas de educação física, organizadas pelo professor Walter Bispo, que também promovia corridas aos sábados pelas ruas do centro. Essa informação sugere que o professor adotava métodos de ensino mais flexíveis e não tão rígidos como os tradicionais da época.

A escolha de um plano geral, que captura a interação dos estudantes com o ambiente, revela um povoado ainda pouco urbanizado, cercado por postes de energia elétrica recém-instalados, próximo à Avenida Presidente Getúlio Vargas, recentemente pavimentada, que ligava o centro do povoado à BR-101, um importante símbolo do discurso desenvolvimentista.

Essa escolha de plano e elementos reforça a ideia de que o fotógrafo buscava enquadrar os estudantes em uma paisagem em transformação com a chegada do progresso, tema amplamente divulgado em jornais locais e nacionais, registrando novas formas de educação e socialização além dos muros da escola. Os estudantes, uniformizados, dificultam a identificação de pluralidades no grupo e levantam indícios de normas sexistas, já que a presença de meninas não é claramente perceptível.

Vendedores de picolés

A fotografia também registra de forma não intencional e espontânea a presença de adolescentes e crianças que trabalhavam com carrinhos de picolés, um detalhe que reflete as diferenças sociais da época, mesmo que essas figuras estejam em segundo plano e desfocadas.

A historiadora Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes, no artigo Dimensões de sociabilidade no Extremo Sul da Bahia (1960/1980): Violência em progresso, analisa o impacto das políticas desenvolvimentistas sobre as populações urbanas e rurais da região. Ela observa que “os sinais de progresso não constituíram espaços de acolhida para a população subalternizada que habitava a região”.

Por fim, esta análise destaca os elementos que caracterizaram a década de 1970 no então povoado de Teixeira de Freitas, contribuindo para a discussão sobre a formação e o crescimento urbano da cidade nesse período.

Em conclusão, a fotografia de 1975 não apenas registra um momento específico da vida estudantil em Teixeira de Freitas, mas também reflete as profundas mudanças estruturais que a cidade e a região do extremo sul da Bahia viviam.

As transformações urbanísticas, impulsionadas pelo discurso desenvolvimentista, alteraram tanto a paisagem física quanto as dinâmicas sociais, revelando tensões entre o progresso material e as condições de vida da população subalternizada.

Ao mesmo tempo, a imagem evidencia o surgimento de novas práticas pedagógicas e a crescente divisão social, marcada pela presença de trabalhadores infantis. Assim, a fotografia é um documento valioso que permite compreender não apenas a história do povoado, mas também as implicações sociais e políticas da modernização naquela época, década de 1970.

Fontes e referencias

BURKE, Peter. Testemunha ocular: o uso de imagens como evidência histórica; traduzido por Vera Maria Xavier dos Santos; São Paulo: Editora Unesp, 2017.

GOMES, Liliane Maria Fernandes Cordeiro. Dimensões de sociabilidade no Extremo Sul da Bahia (1960/1980): Violência em progresso.

Foto: Acervo .

Conversa informa com Antonino Santos Silva.

leitura do registro foi feita a partir das informações disponíveis e relatadas pelo o antigos estudante.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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