História de Teixeira de Freitas. Comidas típicas parte 01

Por Daniel Rocha.
Pouco conhecida, mas muito diversificada, a cozinha teixeirense é bastante regional e altamente influenciada pela cultura negra, nativa, portuguesa e atualmente pela cozinha mineira e capixaba.

O que mais impressiona é o "exotismo" dos pratos mais antigos, o nome dos peixes, molhos e ingredientes utilizados. Pratos como, Paçoca de Tanajura, Bambá, Caruru de Veado, Araruta, Quiabo com farinha, Feijão de coco. Além dos mais variados tipos de bebidas.
O objetivo desta   série de textos, intitulada – Comidas típicas em Teixeira de Freitas - e falar dos hábitos alimentares do passado e do presente,  das influências macroeconômicas e religiosa na forma de se alimentar dos  moradores de Teixeira de Freitas, nas décadas de 1950,1960,1970 até os dias atuais.
Para começar vamos conhecer um prato tido como exótico que já fez a alegria de adultos e crianças nas décadas anterior 1960, à farofa da Tanajura.
Farofa de Tanajuras.
De acordo com a  reportagem intitulada – Atrás do homem,Revista Veja de 1976, que tratava sobre o perigo da formiga saúva para as plantações e obras públicas, a farofa da formiga era um prato apreciado no sul da Bahia:
“Refogada com cebola e pimenta do reino, a tanajura – forma alada da saúva - é um ingrediente essencial à preparação de uma certa farofa largamente consumida no interior brasileiro, sobretudo no norte de Minas Gerais e sul da Bahia.”
Com a curiosidade atiçada pela reportagem, entrevistei algumas pessoas que moram na cidade a mais de 30 anos. Como, Sílvia Souza que jura nunca ter provado a iguaria. “Não por falta de oportunidade, eu sempre foi enjoada com comida, mas muitos moradores usavam comer”.
Completa, “Para você vê que hoje não tem mais. Eu nasci em 1961 e até os dez anos vi muita gente falar que comia. Dizem que colocavam na panela sem gordura, porque a bunda dela já tinha. Eu nunca comi, o pessoal não comia por necessidade, acho que o povo não tinha maldade”.
Outro morador consultado sobre o assunto, o Senhor Valdívio Matos de 63 anos, diz que comeu muitas no município onde cresceu, Medeiros Neto. Recorda que ao chegar em Teixeira de Freitas na década de 1970, só escutou falar do hábito. Indagado se o consumo estava associado a miséria ou pobreza, respondeu que não. “As pessoas comiam porque era um hábito, eu comia  misturada com paçoca.
Já Isidro Nascimento, 87 anos, que nasceu e depois morou em diversas comunidades rurais pela região do município contou que na infância, ou seja na década de 1930, não só comia como ajudava no ritual de caça. Segundo ele a molecada formava um couro para cantar a música, Cai, cai tanajura na panela da gordura! Cai, cai tanajura… “Elas não resistiam, caía um monte no chão”.
Ainda de cordo o octogenário, o prato era saboroso e bem apreciado em períodos de chuva. Conta ainda que a formiga era procurada por ser um alimento gostoso. “Não era só as crianças que caçavam não, os adultos também gostavam.”
Informa Isidro que a partir da década de 1970, já não comeu mais e até então não tem comido, a razão do não consumo ele mesmo explica. “Não tinha como agente continuar, antes tinha para encher a panela, hoje em dia ninguém acha e são pequenininhas quase não se vê”.
De acordo com os moradores, o hábito de comer tanajuras se findou com o passar dos anos em consequência da escassez do inseto. Segundo a reportagem da Veja ,  havia no Brasil  300 milhões de sauveiros, uma média de três sauveiro para cada habitante do país.
De acordo a mesma reportagem, o número de formigas saúva, tanajura, tendia a se proliferar em maior número em locais cujo progresso da cidade avançava, pois com a derrubada das matas e extinção de alguns predadores naturais a formiga estava livre para se multiplicar. Algo que segundo os moradores não aconteceu, pelo contrário, foram extintas junto com o meio natural existente.
Nesse ponto, é possível estabelecer relações com o processo “civilizador”. No próximo texto mais detalhes sobre o consumo e outros fatores que inibiram o hábito comum na região.
 Fontes:
CARNEIRO, H. Comida e sociedade: uma história da alimentação. Rio de Janeiro: Campus,
2003. p. 1.
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Por uma História da Alimentação. História Questões &
Debates, v. 14, n. 26-27, p. 165, jan./dez. 1997.
ATRÁS do homem.In : Veja. Meio Ambiente. Edição 399,P  62. 28/04/1976.  Disponível em:http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx . Acesso em: 06 dezembro de  2013.
Fontes orais:
Conversa informal com Sílvia Souza em  23/11/13
————————-Valdívio Matos em 24/11/13
————————-Isidro Alves do Nascimento em 24/11/13.
Veja também

Comidas típicas em Teixeira de Freitas parte 02

Exposição Agropecuária de Teixeira de Freitas


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