Especial 37 anos – Será essa a foto mais antiga da cidade?




 Esta imagem, que pode ser um dos registros mais antigos de Teixeira de Freitas, foi compartilhada anonimamente em uma rede social de fotografia em 2013, sem maiores detalhes sobre sua origem. Em 2020, contudo, o local retratado foi identificado por Jair de Freitas Correia, um antigo morador da cidade, permitindo a construção de uma análise histórica a partir de suas memórias.

O senhor Jair, hoje com 78 anos, identificou a casa como pertencente à família de Júlio Rico, localizada à margem direita da atual Avenida Presidente Getúlio Vargas, “bem depois do Hospital Regional”. De acordo com suas lembranças, a foto remete à década de 1960, quando ele costumava passar frequentemente pelo local. Essa datação torna a imagem uma das mais antigas representações visuais da cidade, anterior ao seu processo de urbanização e consolidação.

A figura de Júlio Rico ganha relevância no contexto historiográfico por ser pai de Aurelino e Osmindo, considerados pioneiros no estabelecimento do “Comércinho dos Pretos”, um núcleo comercial que se desenvolveu às margens da estrada de rodagem Euleuzibio Cunha S/A, próximo à atual Praça dos Leões. Este ponto foi fundamental para o surgimento de Teixeira de Freitas enquanto espaço urbano, evidenciando o papel das populações negras na formação dos primeiros circuitos de comércio local.

Ainda segundo os relatos de Jair de Freitas, Aurelino e Osmindo eram netos de Velho Guilherme, ex-escravo e proprietário da Fazenda Japira, situada onde hoje se encontra o bairro Colina Verde. A história dessa família, como tantas outras, revela a complexa teia de relações sociais e econômicas que caracterizou os primeiros tempos da cidade. O Velho Guilherme, descrito como “um ex-escravo que falava embolado”, era figura central de uma colônia de descendentes de africanos, cujos traços culturais marcaram o desenvolvimento da região.

Do ponto de vista histórico, dois elementos da fotografia merecem destaque. O primeiro é a presença de uma palmeira de dendê em frente à casa, planta cuja importância simbólica e material está associada à diáspora africana no Brasil. Utilizado para a produção de óleo, o dendezeiro desempenhava papel essencial na alimentação e cultura material das comunidades afrodescendentes que fundaram o “Comércinho dos Pretos”, o que confere à foto um caráter etnográfico.

O segundo aspecto é o estilo das habitações, construídas em barro batido e cipó, sem muros e dispostas próximas umas das outras, evidenciando um padrão de ocupação que privilegiava a socialização e o contato comunitário. Essa configuração espacial reflete uma época em que a vida social e econômica da cidade estava em formação, com laços de vizinhança e solidariedade desempenhando papel preponderante no cotidiano.

O estudo de Susana Ferreira, intitulado “A vida privada de negros pioneiros no povoamento de Teixeira de Freitas na década de 1960”, corrobora essas informações. Nele, Onofre José de Oliveira, irmão de Aurelino e Osmindo, narra que, em 1958, a família deixou a Fazenda Santa Maria e se estabeleceu no comércio, formando o núcleo que posteriormente seria conhecido como “Comércio dos Pretos“.

Este relato se alinha com as memórias de Jair de Freitas Correia e reforça a autenticidade da imagem como um registro das primeiras moradias e práticas de vida dos pioneiros afrodescendentes da cidade.

Diante desses dados relatados e obsevados, a fotografia se revela uma importante peça para a reconstrução da memória social e urbana de Teixeira de Freitas. Ela documenta não apenas o espaço físico, mas também as dinâmicas culturais e econômicas que moldaram a cidade em suas primeiras décadas, oferecendo uma janela para o passado que permite compreender melhor as raízes históricas da região.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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