Relações fronteiriças no Extremo Sul da Bahia – Parte 02



Por Daniel Rocha

Notícias de jornais da década de 1960 e um relato sobre a década de 1970, evidenciam que os moradores e moradoras das fronteiras do extremo sul da Bahia, apesar da falta de estradas oficiais, rompiam os limites regionais em momentos que permitiam uma melhor interação social longe do controle oficial definidor.

Isso fica claro, por exemplo, em uma notícia publicada em um jornal local de 1969, sobre a realização de torneios e campeonatos envolvendo times de futebol das cidades localizadas na região fronteiriça de Minas, Espírito Santo e Bahia.

De acordo com o registro, em um torneio não oficial, o time União de Itanhém, formado por trabalhadores e operários, enfrentou e venceu de goleada a equipe do “Industrial”, da vizinha Medeiros Neto, por 04×0, derrotou o time capixaba “Brasil,” de Mucurici, por 05×01, e venceu o imbatível Bralanda, de Nanuque, por 03x 02.

Os jogos reuniam torcedores e torcedoras que também visitavam as cidades envolvidas e acompanhavam os amistosos do outro time de destaque da cidade, como o Esporte Clube Brasil de Itanhém (foto), que também era muito conhecido “regionalmente”. 

Outra notícia que revela uma movimentação fora dos parâmetros definidores oficiais é uma sobre a realização de um campeonato de “Briga de Galos”, realizado em novembro de 1969 na cidade de Serra dos Aimorés. O torneio foi praticado em uma conhecida “Rinha de Galos” e foi promovida por “galistas” residentes na cidade mineira e contou com a presença de baianos da cidade de Medeiros Neto e uma calorosa torcida.

Outra movimentação fora do padrão definidor também é relatada no livro “Os desbravadores do Extremo sul da Bahia”, do Frei Elias Hooij. Na obra o frei holandes, que atuou em todo extremo sul baiano, conta que na década de 1970 o povoado de Posto da Mata, era constantemente procurada por pais e mães da capixaba Pedro Canário, para ver batizados os filhos

De acordo com o frei, os fiéis procuravam as igrejas do povoado para batizar os filhos porque em terras baianas os padres não eram tão exigentes como os capixabas, que faziam uma série de exigências para batizar os recém nascidos. Movimento que gerava interação e criação de vínculos bem longe do controle da ordem fiscalizadora oficial.

Por fim, os fatos citados demonstram que a linha oficial delimitada pelos estados não confinava culturalmente os moradores deste extenso espaço geográfico dividido. Que as relações estabelecidas entre as cidades fronteiriças eram permeadas por costumes comuns nas quais as partes também estabeleciam relações de reciprocidades.

Daniel Rocha*

Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.  Contato WhatsApp: (73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com 

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