O Extremo Sul da Bahia em 1840 - Parte III

 

Por Daniel Rocha

( Continuação do texto anterior) No estudo estatístico intitulado “The Progress of America From the Discovery by Columbus to the Year 1846”, John MacGregor apresentou uma visão limitada e desatualizada da realidade econômica e social do baixo extremo sul da Bahia. 

Ao focar exclusivamente na mandioca como principal produto e nas vilas portuárias de Caravelas e Prado como centros econômicos na década de 1840, MacGregor negligenciou as mudanças significativas que já estavam em curso na região.

Sua dependência nas informações de Maximilian Alexander Philipp zu Wied-Neuwied, autor de “Viagem ao Brasil” de 1812, resultou em uma interpretação distorcida da época, pois deixou de registrar a importância crescente da Colônia Leopoldina e outros desenvolvimentos que estavam transformando a rotina local na divisa sul da Bahia com as províncias do Espírito Santo e Minas Gerais.

Contudo, é importante considerar que essa defasagem pode ser explicada pelo fato de o livro ter sido lançado em 1847, quando os métodos de comunicação e coleta de dados eram muito mais lentos  e não rápido como é possível no presente.

Criada em 1808 por imigrantes suíços e alemães com apoio de D. João VI, a Colônia Leopoldina havia se tornado, naquela década, um importante centro de atividade econômica para a região e para o Império Brasileiro.

Localizada no interior da Vila de Caravelas, hoje município de Nova Viçosa, na região do distrito de Helvécia, a colônia viu sua realidade se transformar rapidamente com a chegada dos colonos, como aponta o historiador Ricardo Tadeu Caires Silva.

Embora as atividades produtivas tenham começado com trabalhadores livres, a escassez de novos imigrantes levou à introdução do trabalho escravo para o cultivo de café, uma commodity emergente nas exportações brasileiras. Segundo o historiador Ricardo Tadeu, a Colônia  de suições e alemães  prosperou a partir de meados da década de 1840, mudando o perfil econômico da região. 

Fazenda Pombal. Colônia Leopoldina -BA.
Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Em 1852, já exportava 70.000 arrobas de café, e na década seguinte, esse número cresceu para cerca de 100.000 arrobas. Esses dados evidenciam que o estudo de MacGregor não capturava toda a realidade econômica da região, que já havia deixado de se destacar apenas pela produção de farinha de mandioca. 

Isso demonstra que, além da produção de farinha de mandioca, a região já apresentava uma economia diversificada na década de 1840, especialmente na Colônia Leopoldina.

Um anúncio de venda de fazenda na colônia, publicado no “Jornal do Commercio” em 29 de outubro de 1848, revela que a Colônia Leopoldina não só plantava café, mas também explorava de forma diversificada as possibilidades local:

“Vende-se uma fazenda na Colônia Leopoldina, Vila Viçosa, comarca de Caravelas, província da Bahia, com 119 braços de terra à beira do rio do mesmo nome, e uma légua de fundos. O rio é navegável independentemente das marés. Possui 15.000 pés de café plantados, que renderão mais de 2.000 arrobas na próxima colheita, armazém para o café, cozinhas e fornos para farinha de mandioca, senzalas para escravos, árvores frutíferas, plantações de mantimentos e mandioca para produzir mais de 1.200 arrobas de farinha, pasto cercado, quatro ribeiros propícios para engenhos d’água, e mata virgem com madeiras de lei. As terras são muito boas […] vende-se com escravos e senzalas; o dono vende porque retorna à Europa.”

O anúncio destaca a variedade de produtos e infraestruturas presentes na região, como café, pastos, madeira de lei e engenhos, ilustrando uma complexidade econômica que contrasta com o trabalho informativo limitado de MacGregor.

Que, para além disso,  também não menciona a área como ponto de trânsito, fuga e resistência negra e nativa, um tema que será explorado mais adiante.

Outro aspecto ignorado por MacGregor  lançado na década de 1840 foi o impacto da fundação da Companhia de Comércio e Navegação do Mucuri por Teófilo Benedito Ottoni em 1847. (Continua…)

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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