Anos 90 em Teixeira de Freitas: Os Sacoleiros do Paraguai



Por Daniel Rocha
Em meados da década de 1980 até os anos 1990 do século passado fatores como a forte recessão econômica e o desemprego, vivenciados nos governos de José Sarney (PMDB), Collor de Mello (PRN) Itamar Franco (PMDB) e parte do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), levaram muitos brasileiros a procurar alternativas de trabalho e renda na informalidade como sacoleiros, pessoa que vive de compra e venda de mercadorias em locais específicos.
Em Teixeira de Freitas (BA) não foi diferente, com o desemprego em alta causado pela crise e por uma segunda onda migratória provocado pela instalação de uma fábrica de celulose na região no início dos anos 1990, alguns teixeirenses desempregados se juntaram aos sacoleiros para manter o sustento da família.
Como a senhora Frederica Gonçalves, 50 anos, que  em meados da década de 1990 vendia porta a porta artigos importados trazidos pelo marido João Gonçalves, 55 anos, da Ciudad del Est do Paraguai.
De acordo com a ex- sacoleira a ideia de comprar e vender produtos importados surgiu em 1995 depois que João Gonçalves foi demitido da empresa que trabalhou durante dez anos e, na falta de outro, foi incentivado por um amigo “sacoleiro do Paraguai” a entrar no ramo.
Segundo registrou a Revista Visão, 1992, que abordou o assunto, parte dos sacoleiros brasileiros eram desempregados que utilizavam o dinheiro do Fundo de Garantia para ir ao Paraguai comprar objetos para revender a preços maiores no Brasil.
Detalha Frederica que para chegar ao Paraguai o esposo João Gonçalves partia em uma caravana de três ônibus ocupados por sacoleiros teixeirenses e de outras cidades do extremo sul. A excussão regional era organizada por uma empresa local e a viagem a Ciudad del Est ,Paraguai, durava em torno de cinco dias se não detido na fronteira com excesso de produtos visados.
Ainda de acordo com os relatos de Frederica havia duas categorias de  sacoleiros, os que trabalhavam com produtos variados e os sacoleiros especializados na compra de bebidas, cigarros, instrumentos musicais e eletrônicos.
Essa diferenciação era importante na hora de passar pela alfândega, já que alguns destes produtos, bebidas e cigarros, eram mais visados pela fiscalização e obrigava maiores cuidados por parte dos compradores que “às vezes perdiam tudo”.
Na cidade os produtos eram revendidos para os camelôs, atravessadores ou diretamente para os consumidores espalhados em diversos bairros ou repassados para vendedores de Alcobaça, Caravelas, Medeiros Neto, Itamaraju dentre outros.
Quando conversava com Frederica sobre o assunto na sua casa no centro da cidade, estava a ouvir sobre os sacoleiros a vizinha Luciana Fonseca, 52 anos, que interrompeu a conversa para dizer que a sua cunhada “Maria” trabalhou com a venda de produtos do Paraguai “desde a época que tinha que ir a Linhares pegar o ônibus”.
Em posse do número conversei por telefone com “Maria” que desconfiada não queria falar sobre a antiga ocupação. Depois de compreender a finalidade do trabalho informou que entrou no ramo no ano de 1988 pela necessidade de criar  os filhos.
Conta à trabalhadora que foi motivada por um amigo que atuava no ramo já algum tempo e que, na década de 1980,  de fato não havia excursão saindo da cidade de Teixeira de Freitas direto para o Paraguai.
Por essa razão tinham que ir a cidade de Linhares (ES) se juntar à excursão  formada por sacoleiros capixabas. Situação que só mudou quando os teixeirenses do setor se organizaram para formar uma caravana local no início da década de 1990 “mais ou menos em 1992”, diminuindo os custos e tornando ainda mais lucrativo o negócio.
Revela que a margem de lucro era boa, em média 50%. Com a venda direta ao consumidor, porta a porta, girava em torno de 90%. Alguns produtos eram vendidos diretamente na casa do sacoleiro, também um ponto de venda.
Os mais procurados por clientes locais eram os aparelhos telefônicos, eletrônicos e outros  objetos como guarda-chuva, com destaque para os estampados com o rosto da cantora norte-americana Madonna, muito vendido no final dos anos noventa. A propósito, diga-se de passagem, uma falsa Madonna “Like A Virgin” segundo o site trash80s.
Tanto Maria quanto a Frederica e o esposo João deixaram o ramo quando a família alcançou a estabilidade financeira novamente e porque, com o passar dos anos, a fiscalização foi intensificada na fronteira pelo governo brasileiro.
No presente, apesar do número menor, os sacoleiros continuam a atuar na fronteira em busca de produtos como celular e outros eletrônicos. O cigarro ainda é o produto mais apreendido pela polícia. 
Fontes e Referências bibliográficas
KOOPMANS. Padre JoséAlém do Eucalipto: O papel do Extremo Sul. 2005.
Revista Visão: 41 . Acessado em  outubro de 2016.
Crise econômica faz sacoleiro  ‘evaporar’ na fronteira .Folha de São Paulo. Acessado em Dezembro de 2016.
Afinal de contas, o “Guarda-Chuva da Madonna” existiu mesmo? trash80s.com.br.
Conversa informal : 
*Frederica Gonçalves. Setembro de 2016.
*Maria. Setembro de 2016.
*Nomes trocados a pedido dos entrevistados
Foto: Imagem meramente ilustrativa. Fonte : Google Imagens.
Daniel Rocha
Historiador, Bacharel em Serviço Social, Pós-Graduado em Educação à Distância (EAD), Cinéfilo e blogueiro criador do blog Tirabanha em 2010.
E-mail: tirabanha@tirabanha.com.br
Contatos do WhatsApp: (73) 998118769

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