Dá pra mudar sem se trair?

 



Por Daniel Rocha

Todos os dias nos submetemos a sistemas invisíveis — planos, grupos, comandos, metas — como se houvesse uma rota traçada que garantisse sentido à existência. Corremos atrás de posicionamentos políticos, ascensões de carreira, validação social, como se tudo isso resistisse ao tempo, como se a ordem do mundo dependesse da nossa performance. Mas no fundo, tudo é ruína esperando acontecer. A fama desaparece. O prestígio cansa. A carreira um dia cessa. O corpo falha. E o mundo segue, indiferente.

Ainda assim, viver exige escolhas. E a única escolha possível é aquela que parte do que se é, não do que se espera ser. Transformar-se, sim, mas não para agradar a moldes passageiros. Mudar aquilo que já é forte dentro de você, mas forte como pedra bruta, não como sabedoria. Nem tudo o que te sustenta te liberta.




Você é chamado de cabeça-dura, e talvez com razão. A rigidez pode ser força, mas também pode ser prisão. A obstinação, se não guiada pela razão, é só teimosia mascarada de coragem. Ceder não é fraqueza. É uma arte dos que não se deixam controlar pelo impulso. Pensar antes de agir é o escudo do sábio. Negar isso é viver refém de si mesmo.

No fim, nada disso te salvará. Mas a dignidade de ser quem se escolhe ser, com lucidez, com autocontrole, com renúncia consciente, essa talvez seja a única vitória possível diante do absurdo jogo cotidiano da vida em sociedade. Dá pra mudar sem se trair.

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