Por Daniel Rocha
O trecho da BR-101 que liga a Bahia ao Espírito Santo foi oficialmente inaugurado em 22 de abril de 1973, em Porto Seguro. A cerimônia contou com a presença de autoridades de todo o país e foi marcada pelo discurso entusiástico do então ministro dos Transportes, Mário Andreazza, que celebrou a rodovia como símbolo do desenvolvimento nacional e regional.
Representando a ditadura militar, Andreazza exaltou a obra como um marco da integração nacional e da expansão econômica, uma promessa de progresso para uma região historicamente marcada por desigualdades.
De fato, ao longo das décadas, a BR-101 teve papel relevante no crescimento local. Mas, desde seu primeiro dia, a estrada também expôs seus riscos e revelou uma verdade dura: o progresso que acelera economias nem sempre protege vidas.

Segundo o Jornal do Brasil, de abril de 1973, na véspera da inauguração dois acidentes no trecho baiano da rodovia causou susto e espanto. No primeiro, um caminhão-tanque despencou de uma ponte sobre o rio Pardo, em Itamaraju, após três pneus estourarem. A queda de 50 metros matou o motorista e um casal que o acompanhava.
As vítimas, socorridas a duras penas por moradores locais, não resistiram aos graves ferimentos, a demora no atendimento e a distância até o hospital em Itabuna escancararam a cruel realidade: uma região que ganhava estradas modernas ainda agonizava com serviços de saúde précarios.
Ainda conforme o relato do periódico, poucas horas após os festejos oficiais da inauguração um carro Variant, que levava autoridades capixabas de volta a seus municípios, colidiu contra um pontilhão na estrada, provavelmente mal sinalizado. O impacto matou instantaneamente o prefeito de Pinheiros (ES), Antônio Alves Fernandes, e seu secretário, Jenner.
Também estavam no veículo o vereador Edson Rodrigues Lacerda, que saiu ileso, e o motorista José Batista de Freitas, hospitalizado em coma em Eunápolis , cidade que, na época, contava com apenas quatro médicos e um hospital.

Já no segundo, ocorrido no mesmo dia da inauguração oficial, a BR-101 revelou seu duplo significado: símbolo de um Brasil em modernização, mas também cenário de mortes que embora esquecidas, ainda estão presentes em cada acidente registrado.
No presente, cinco décadas depois, a estrada que prometia progresso segue lembrando que desenvolvimento real exige mais do que asfalto, requer segurança e estrutura adequada para quem a percorre. Uma lição que, infelizmente, ainda não foi totalmente aprendida.
Daniel Rocha - Historiador graduado e pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato:
WhatsApp: (73) 99811-8769
Visite nosso Instargram
Visite nosso Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário