“OS COLONOS” – A CARA SUJA DA CONQUISTA




 Por Murillo Mello

Tá procurando um filme que não alivia e ainda te joga no chão com a verdade? Então vai lá no Max assistir “Os Colonos” (2023), do chileno Felipe Gálvez Haberle. 

Esquece aquele faroeste limpinho e com mocinho heroico, esse aqui é duro, incômodo e arranca do fundo do baú histórico algumas das páginas mais sujas da história do Chile (e, de quebra, das Américas).

A história se passa em 1901, na gelada e isolada Terra do Fogo, onde um latifundiário manda três homens numa missão supostamente civilizatória: um tenente britânico colonialista, um mercenário americano com gelo nas veias e Segundo (Marcelo Alonso), mestiço e atirador do trio. 

O objetivo oficial? Abrir estrada e levar o “progresso”. O real? Um banho de sangue disfarçado de missão nobre.

O contraste é brutal: a paisagem natural de tirar o fôlego só serve de pano de fundo para atos de violência sem pudor. E o filme não poupa ninguém. A câmera expõe tudo — o racismo, os massacres, o roubo de terras. É desconfortável? Sim. E precisa ser.

Mas o roteiro vai além da crítica óbvia aos colonizadores brancos. Aponta também pra complexidade do personagem assimilado, como o Segundo, que vira ferramenta de opressão antes de entender o próprio lugar nessa engrenagem cruel. É um retrato forte da dor e da alienação provocadas pela colonização.

E o final? Aquele tipo de cena que cala a sala de cinema. Um discurso pomposo sobre civilização rola solto… enquanto uma mulher indígena observa, sem dizer uma só palavra, mesmo na cena consentida do final. 

Mas o olhar dela carrega mais verdade do que qualquer monólogo. É o tipo de silêncio que grita — e desmonta qualquer orgulho colonial.

No fim das contas, “Os Colonos”não é só um filme. É um soco no estômago com assinatura autoral. 

Daqueles que você termina e fica sentado, encarando os créditos e revendo tudo o que aprendeu , ou o que te esconderam. Vai preparado. Não é fácil. Mas é fundamental.



Tirabanha

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