No coração de Teixeira de Freitas, o prédio da antiga Prefeitura não era apenas um edifício; era um símbolo da cidade, um ponto de encontro para as conversas e risadas dos moradores muito antes da emancipação política em 1984. Ali, por trás de suas paredes, funcionaram alguns dos bares mais icônicos da região, onde histórias e memórias se entrelaçaram como os fios de uma tapeçaria vibrante.
Entre esses estabelecimentos, o "Bar ARUTEF", o "Bar Clube dos Vaqueiros" e, mais memoravelmente, o "Bar Garota da Avenida" deixaram suas marcas. Este último, com suas portas abertas durante boa parte da segunda metade da década de 1980, se tornou um refúgio de alegria e diversão logo após a cidade conquistar sua independência.
Com a nova administração local, o prédio foi sendo gradualmente ocupado — primeiro a parte de cima, depois todo o espaço. E assim, o "Garota da Avenida" encontrou seu lugar na memória de muitos. Lília do Carmo recorda com carinho aqueles tempos. A parte de baixo do prédio pulsava com vida, onde ela e sua amiga Marlene, funcionária do bar, compartilhavam momentos inesquecíveis da juventude.
As duas, uma loira e outra morena, eram frequentemente alvo das cantadas e investidas atrevidas dos homens que frequentavam o local. "Na década de oitenta, os homens eram ousados e não se continham nas abordagens", Lília se diverte ao lembrar.
O bar era um espaço democrático. Qualquer um podia se acomodar, seja para saborear um refrigerante, uma cerveja ou até mesmo um whisky, sempre acompanhado de um petisco generoso. Ali, a amizade e a diversão não conheciam barreiras, e o sexismo e a discriminação eram palavras estranhas.
As canções que embalavam as noites no "Garota da Avenida" eram aquelas da novela "A Gata Comeu" (1985), ecoando nas memórias da moçada. Músicas como "Só para o Vento", de Rithie, e "Seu Nome", de Biafra, eram o pano de fundo para causos e amores que floresciam sob a luz da lua.
Ah, como em todo bar, as histórias do cotidiano se transformavam em contos saborosos, contados entre risos e gargalhadas. Certa vez, Lília recorda um acontecimento inusitado: "Um homem muito ousado chegou ao bar e pediu um whisky. Marlene, que estava no balcão, saiu para servi-lo com todo o cuidado. Quando ela se virou, ele puxou seu braço e disparou: 'Além da bebida, servem você?'"
A história não termina aí. "Ela pediu que ele ficasse até o final do expediente. Quando o horário chegou, ela saiu com uma arma e a encostou no rosto dele, dizendo: 'Na próxima vez, vou servir uma bala no seu peito', exigindo mais respeito."
Essas memórias são como ecos do passado, uma janela para um tempo em que o "Garota da Avenida" não era apenas um bar, mas um palco de histórias, amores e risadas. Assim, a antiga Prefeitura de Teixeira de Freitas permanece, não só como um prédio, mas como um guardião de memórias e emoções que ainda ressoam nas ruas da cidade.
Daniel Rocha.
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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Foto: Dias vídeo produções.
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